Apesar de questionar o valor apresentado pelo governo para a indenização e a tarifa para a renovação das concessões que vencem até 2017, a Eletrobras já traça planos para se adaptar ao novo cenário, no qual prevê um corte de R$ 8,5 bilhões na receita anual por conta das novas regras. Entre as medidas em estudo, está a venda de participação nas distribuidoras do grupo.
"Estamos melhorando muito a redução de perdas e de inadimplência [das distribuidoras]. Mas isso poderia ser feito numa velocidade maior. Num esquema societário um pouco diferente, a gente pode ter um resultado ainda melhor", afirmou o presidente da companhia, José da Costa Carvalho Neto, ao Valor. "Estamos abrindo algumas hipóteses para apresentar ao nosso conselho de administração e aos nossos acionistas", completou.
A venda das distribuidoras da Eletrobras é considerada um tabu, desde que o PT assumiu o governo federal, em 2003, e estancou o processo de privatizações no setor elétrico. A estatal possui seis distribuidoras, nos Estados do Amazonas, Rondônia, Roraima, Acre, Piauí e Alagoas, conhecidas por terem indicadores operacionais e financeiros ruins, embora a holding tenha elevado recentemente o investimento nessas companhias. A Eletrobras também está em fase de conclusão da aquisição de 51% da distribuidora goiana Celg.
Segundo Carvalho Neto, a eventual negociação desses ativos é uma medida de médio e longo prazo para o novo contexto operacional da empresa. No curto prazo, o remédio será mesmo a redução agressiva dos custos. A expectativa da Eletrobras é que seja necessário um corte de 30% nos custos operacionais, para que a estatal continue operando no azul.
Nesse sentido, entre as ações previstas, estão cortes em contratos de publicidade e redução de contratação de serviços terceirizados. A companhia também está elaborando um programa de desligamento voluntário incentivado para os funcionários. Segundo o executivo, dos cerca de 28 mil empregados do grupo, 8 mil já estão em condições de se aposentar.
Embora o executivo não confirme, tudo indica que a Eletrobras aceitará renovar a concessão das usinas e linhas de transmissão que vencem até 2017, mesmo sob as condições impostas pelo governo na última semana. De acordo com o Ministério de Minas e Energia, a Eletrobras terá direito a indenização de R$ 14 bilhões, menos da metade dos R$ 31 bilhões esperados pela estatal. A companhia tem até 4 de dezembro para assinar a renovação dos contratos.
O presidente da Eletrobras afirmou que, mesmo nesse cenário desfavorável, a companhia não trabalha com a hipótese de rever o seu plano de investimentos para os próximos anos. A empresa prevê investir entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões por ano e manter sua participação de mercado de 35% na geração e 56% na transmissão.
Mas a Eletrobras ainda arriscará uma última cartada, a fim de elevar o valor das indenizações estabelecido pelo governo. Até quinta-feira, a companhia vai apresentar à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) cálculos que comprovem que ela tem direito a uma indenização maior do que a prevista na portaria divulgada pelo Ministério de Minas e Energia (MME) na última semana.
"Estamos aprofundando instalação por instalação, mostrando isso com clareza, para ir aos órgãos que fizeram esses cálculos e confrontar os nossos cálculos com os deles. Tenho convicção que chegaremos a um bom termo", disse o executivo. "O objetivo do governo de reduzir o custo da energia no Brasil é perfeito na essência. O que estamos vendo são alguns detalhes da dosagem", completou.
A Eletrobras é a companhia mais afetada pelo processo de renovação das concessões. Ontem, no primeiro dia de negociação no mercado após a publicação da portaria do MME, as ações ON e PNB da Eletrobras recuaram 4,66% e 8,21%, respectivamente. No ano, as ações acumulam perdas de 32,61% e 37,44%, respectivamente. (Valor Econômico)
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