sexta-feira, 22 de julho de 2011

Previ desiste de fusão de elétricas e pode vender Neoenergia à Iberdrola

A Previ desistiu de promover uma fusão entre seus dois ativos de energia elétrica, a CPFL e a Neoenergia. Segundo fontes, o fundo de pensão quer agora vender sua fatia na Neoenergia para a sócia Iberdrola e concentrar seus investimentos no setor na CPFL. O desejo da Previ vai em linha com os planos da empresa espanhola para o Brasil.

"Estamos negociando. (...) O objetivo é que a Iberdrola tenha maioria da Neoenergia", afirmou ontem, em Madri, o presidente da empresa, Ignacio Sanchez Galán, durante uma teleconferência com analistas para divulgar os resultados da companhia. A empresa espanhola anunciou um lucro líquido ? 1,56 bilhão no primeiro semestre, desempenho 6,6% superior ao registrado no mesmo período do ano passado.

No Brasil, a Iberdrola detém 39% da Neoenergia, enquanto a Previ é majoritária com 49% e o Banco do Brasil tem uma fatia de 12%. No evento, Galán explicou que vem trabalhando na reorganização dos negócios no País, movimento que inclui a incorporação da Elektro, adquirida no início do ano.

Em nota divulgada ontem, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil limitou-se a informar que "continua avaliando as suas participações no setor de energia" e nega ter estipulado qualquer valor por sua participação na empresa.

Mas, segundo fontes, a operação está mesmo sendo alinhavada pela Previ, que espera vender suas ações na Neoenergia em uma operação conjunta com o Banco do Brasil.

Em etapas. O modelo de venda do ativo ainda está longe de ser fechado, mas, caminha para ter duas etapas. Na primeira, a Previ e o Banco do Brasil alienariam apenas uma parte de suas ações. O restante ficaria para ser vendido apenas quando a Neoenergia abrisse seu capital e promovesse uma oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa)

"A intenção é capturar os benefícios que essa reorganização e o IPO podem gerar", afirmou outra fonte no setor. Atualmente, a Neoenergia controla as distribuidoras Celpe, no Estado de Pernambuco, Cosern, no Rio Grande do Norte, e Coelba, na Bahia, além de ativos no setor de geração.

A alienação para a Iberdrola resolveria um dos problemas da Previ no setor: o conflito de interesse. Hoje, os representantes do fundo de pensão precisam sair das salas de decisões da CPFL quando são discutidos detalhes sobre as negociações em curso para aquisições de outras distribuidoras de energia ou a participação em grandes projetos de geração de energia. Foi o caso do leilão para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.

Na época, a CPFL e a Neoenergia se posicionaram em consórcios diferentes, o que dificultou a participação da Previ nas decisões. Na reta final, a CPFL desistiu de participar e o fundo de pensão entrou na disputa apenas pelo consórcio integrado pela Neoenergia, que perdeu a licitação.

De acordo com fontes, a ideia da Previ é concentrar seus investimentos em energia elétrica na CPFL, empresa onde divide o controle acionário com a VBC Energia (Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa). A mudança de planos se deve ao fato de as negociações em torno de uma fusão entre a CPFL e a Neoenergia não terem avançado. Em março, as duas empresas confirmaram estudos para uma possível união, mas o processo não andou.

Conversas. As especulações em torno de uma possível fusão entre as duas empresas de energia começaram em 2009, quando o então diretor de investimentos da Previ, Fábio Moser, a afirmou que, após o fundo de pensão ter costurado a fusão entre os grupos de telefonia Oi e Brasil Telecom, a intenção seria buscar uma consolidação dos ativos do setor elétrico.

A possível união da CPFL e da Neoenergia foi apelidada pelo mercado de superelétrica. Ao todo, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil detém 31% do capital da CPFL e 49% da Neoenergia.  Juntas, as duas companhias de energia elétrica atendem mais de 15 milhões de consumidores em sete Estados brasileiros, volume que representa um quarto de todo o mercado de distribuição de energia do País.  (O Estado de S. Paulo)


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