quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Medidas podem restringir os investimentos

Maior empresa elétrica brasileira, dona de 35% do parque gerador e de 53% do sistema de transmissão do país, a Eletrobras terá comprometida a sua capacidade de investimentos na expansão do setor, devido as medidas de redução do custo de energia anunciadas ontem pela presidente Dilma Rousseff. A estatal responde por 14 mil megawatts (MW), ou 67%, dos 21 mil MW de potência das usinas cuja concessão vence entre 2015 e 2017 e pode ser prorrogada, por meio de diminuição da tarifa de energia. 

Cálculos preliminares feitos pela companhia indicavam uma perda de receita da ordem de R$ 5 bilhões, de um total de R$ 30 bilhões anuais. Uma fonte a par das negociações entre o governo e agentes do setor, porém, revelou que a Eletrobras terá prejuízo operacional (antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em 2013, devido à prorrogação das concessões. No ano passado a estatal teve lucro operacional de R$ 6,35 bilhões. 

Para o analista da Ativa Corretora Ricardo Corrêa, o governo está usando a Eletrobras como instrumento de redução da inflação. "Teremos outra estatal trabalhando para a redução das taxas de inflação." 

Corrêa comparou o caso com a situação vivida pela Petrobras. A petroleira é impedida pelo governo, acionista majoritário, a repassar para o mercado consumidor os efeitos da oscilação do preço do barril do petróleo no mercado internacional, com objetivo claro de impedir a aceleração da inflação. Com a divulgação das regras para a prorrogação das concessões, a Eletrobras vai agora analisar os impactos nas suas contas. A empresa espera divulgar nos próximos dois meses o plano diretor de negócios 2012-2016. No primeiro semestre deste ano, a companhia investiu apenas R$ 4 bilhões e reduziu de R$ 13 bilhões para R$ 10 bilhões a previsão de investimentos em 2012. 

Já a Petrobras informou que terá uma economia de R$ 40 milhões por ano com a aquisição de energia elétrica. Nos últimos três anos a petroleira consumiu em suas refinarias e outras plantas industriais uma média de 12.869 gigawatts-hora (GWh) por ano. Segundo a estatal, 70% do consumo em 2010 (equivalente a 1.246 MW médios) foi atendido com geração própria. Os demais 30% (534 MW médios) foram adquiridos como consumidor cativo, sendo a maior parte (460 MW médios) atendida pelo lastro de suas termelétricas. 

Já como vendedora de energia - a Petrobras é a sétima geradora do país, com potência de 5.858 MW - a companhia disse que as medidas não devem impactar os preços dos contratos vigentes e, por isso, ela não vai perder receita. 

Para especialistas do setor, o problema tem proporções maiores e pode prejudicar a capacidade de financiamento da expansão da oferta de energia do país. O efeito será sistêmico: o aumento do risco por meio da redução do rating pode acarretar o aumento dos juros cobrados nos empréstimos e, em casos extremos, a falta de crédito. "O governo vai descapitalizar empresas que investem em geração e transmissão", disse uma fonte.