A provável redução do mercado livre de energia no país deve criar um problema para as comercializadoras, que vinham se expandindo de forma acelerada nos últimos cinco anos. Para o presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), Reginaldo de Medeiros, é esperado que o setor passe por um processo de fusões e aquisições. Para sobreviverem, elas terão de buscar outros nichos de mercado, avalia.
"O Brasil está na contramão da tendência mundial. Todos os países estão abandonando o mercado regulado porque descobriram que o mercado livre é a melhor forma de promover uma redução de preços", disse Medeiros.
O governo fez o que as comercializadoras de energia mais temiam: "itaipuzou" a energia "velha", que é gerada pelas hidrelétricas mais antigas instaladas no país. O apelido refere-se ao procedimento que foi adotado para a usina de Itaipu, inaugurada em 1984, cuja energia foi destinada para as distribuidoras na época, por meio de cotas.
O mesmo vai acontecer com a energia das antigas hidrelétricas, cujas concessões serão, agora, renovadas por mais 30 anos. Essas usinas geram 22 mil MW, que serão destinados somente para o mercado cativo das distribuidoras, também por meio de cotas. Segundo a Medida Provisória que regulamentou o assunto, os consumidores livres não terão direito a nenhuma parte dessa produção.
Como essa energia "velha" será muito mais barata que a vendida atualmente no ambiente livre, os grandes consumidores terão de voltar ao mercado cativo para se beneficiar dos preços mais baixos.
As geradoras terão de vender a energia das hidrelétricas antigas por um preço muito próximo do valor de custo, que é estimado entre R$ 30 MWh e R$ 45 MWh pelos analistas de investimentos. No mercado livre, o MWh custa por volta de R$ 110.
Mas a migração dos consumidores do mercado livre para o cativo não será tão simples, afirma o presidente da Abraceel. "Os contratos no mercado livre têm um prazo, em média, de cinco anos. Os consumidores só poderão migrar para o cativo ao término dos contratos", afirma. Durante esse período, diz Medeiros, os consumidores livres não poderão se beneficiar da redução dos preços da energia "velha".
Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc, discorda. " A extinção dos encargos é válida para todos os consumidores, cativos ou livres", afirma o executivo. (Valor Econômico)
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