quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Setor elétrico não pode ser refém do BNDES, alerta consultor

O Plano Decenal de Energia, documento elaborado pelo governo com as diretrizes para a expansão do setor elétrico nos próximos dez anos, prevê investimentos de R$190 bilhões na área de geração e outros R$46 bilhões em linhas de transmissão e subestações. Com tamanha expectativa de desembolsos, o sócio-diretor da consultoria Tempo Giusto, Eduardo Bernini, fez um alerta: o setor elétrico tem "extrema dependência" do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o que pode implicar em riscos para os investidores.

O especialista, que já presidiu grandes grupos no Brasil, como VBC Energia, EDP e AES, afirmou que o problema "não é nenhuma novidade". Bernini elogiou o banco de fomento, que "tem respondido com muita eficiência e flexibilidade, com recursos", mas destacou que vê o fator como "um ponto fraco". Isso porque, na hora de ir ao BNDES em busca de um financiamento, o empreendedor terá de enfrentar "uma grande competição" pelas verbas. "Há a concorrência com outros setores, como indústria, serviços", explicou o fundador da Tempo Giusto.

O presidente do banco público, Luciano Coutinho, expressou mais de uma vez a intenção de reduzir gradualmente os desembolsos para incentivar o mercado privado a oferecer alternativas. O executivo do governo chegou a afirmar que o "sucesso" neste ano seria conseguir realizar menos empréstimos do que em 2010. No setor elétrico, porém, a previsão é de uma alta nos valores liberados. De acordo com apresentação feita pela chefe do departamento de energia elétrica da área de infraestrutura do BNDES, Marcia Souza Leal, os projetos na área devem receber R$17 bi neste ano, contra cerca de R$12 bi no ano passado.

A executiva lembrou que a expansão será influenciada pela hidrelétrica de Belo Monte, cujas obras começaram neste ano. A Norte Energia, responsável pelo projeto, pleiteia R$19,5 bilhões junto ao banco estatal. Para Marcia, "há um espaço para o empreendedor buscar outras fontes (de recursos)". Ela afirmou que o BNDES "não está querendo diminuir" a participação, mas, sim, "buscar financiamentos complementares" para os investidores, "agregar" novas verbas para os projetos.

Bernini fez questão, também, de ressaltar o lado positivo do mercado, enfatizando que o Brasil se tornou um "hot spot" no cenário mundial e lembrando que "as empresas estão capitalizadas", o que é "um fator extremamente importante e relevante". Ainda assim, o consultor chamou a atenção para a possibilidade de se desenvolver mais o mercado de capitais como fonte de recuros. "Ele ainda é pouco acessado, e não temos fontes de capitais nossas. Há uma indefinição de como vamos ter recursos nessa área". (Jornal da Energia)

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