terça-feira, 15 de março de 2011

Maioria dos apagões e dos miniapagões é evitável

As interrupções no fornecimento de energia elétrica podem ter sua origem no sistema de transmissão, denominado "rede básica", ou no de distribuição. Atribuir culpa a determinada falha de equipamento ou a causas humanas pode escamotear o verdadeiro motivo: a inexecução das necessárias obras de expansão.

Todo o sistema elétrico brasileiro é planejado para operar, ao menos, dentro do critério de contingência simples, o que significa que deve suportar a perda (desligamento) de um componente. Por exemplo, se ocorre o desligamento numa linha de transmissão, a energia pode continuar a ser transportada por outras, de forma que tal "distúrbio" seja imperceptível aos consumidores.

Quando acontecem contingências múltiplas, ou seja, desligamento de dois ou mais componentes, pode-se dizer que o apagão teve outras causas que não a devida expansão do sistema. No grande apagão de 11 de novembro de 2009, por exemplo, o sistema de transmissão de Itaipu estava já preparado para contingência dupla e ocorreu a tripla, desligando quase simultaneamente as três linhas de transmissão do sistema de corrente alternada, o que levou o restante ao colapso.

Deve-se ter em mente que a maioria dos apagões e miniapagões que vem ocorrendo decorre de contingências simples, evitáveis, com a expansão dos sistemas de transmissão e distribuição. A concessionária de transmissão de energia, ao contrário da de distribuição, não tem mais de tomar iniciativas para tanto.

A partir das mudanças e da criação das empresas desse segmento em 1999, houve certa demora para caracterizar a nova dinâmica, de forma que muitas obras necessárias, notadamente aquelas que ficariam na fronteira entre a transmissão e a distribuição, ficaram por muito tempo sem definição clara sobre a quem caberia tal obrigação. No caso de São Paulo, isso só foi elucidado no fim de 2007.

Problemas mais sérios de serem equacionados ocorrem na distribuição de energia na cidade de São Paulo, onde são necessários grandes investimentos para expandir e substituir parte do sistema que se tornou obsoleta. Há ainda demora exagerada no seu restabelecimento, por carência de equipes de manutenção. Autor: Carlos Augusto Ramos Kirchner é consultor em energia e diretor do Seesp (Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo). (Folha de S. Paulo)

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