sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Crise faz mercado de geração eólica crescer 13 vezes no país

Câmbio favorável, incentivos fiscais e crédito com juros subsidiados. Todos esses fatores, somados à crise internacional — em especial na Europa — ajudaram a estimular um mercado que há 10 anos tentava deslanchar no Brasil, mas com dificuldades: o de energias renováveis, em especial a eólica e, espera-se agora, a solar. Só para se ter uma ideia, no ano passado, o Brasil conseguiu acrescentar 583 megawatts (MW) de energia eólica na sua matriz energética, elevando em 63% o estoque, que hoje é de 1,5 MW. Parece pouco quando comparado com grandes produtores como China e Estados Unidos, mas é um grande avanço quando se analisa a rapidez da evolução.

Aos números: em 2005, o Brasil produzia 237 MW/ano de energia eólica. Em 2012, esperase chegar aos 3.121 MW — expansão média de 215 MW por ano ou 13 vezes maior. E a expectativa do governo é que até 2016 essa matriz some 8.074 MW, com expansão média de 1.238 MW por ano. “A energia eólica virou a bola da vez e por isso tem sido a campeã dos últimos leilões de energia”, afirma Cristiane Cordeiro von Ellenrieder, advogada da FHCunha Advogados Associados, escritório que presta consultoria a empresas do setor.


Cristiane lembra que nos últimos anos as empresas passaram a olhar com mais “carinho” para essa fonte de energia, em especial por causa da redução de preços — hoje, a energia eólica só não é mais barata do que a hídrica. “Empresas com tradição na exploração da energia hídrica estão se voltando também para projetos eólicos para atender às exigências do mercado para o desenvolvimento de planos mais sustentáveis do ponto de vista ambiental, mas também por causa da redução dos custos de produção e de comercialização.” Para se ter uma ideia, em 2005, quando a energia eólica começou a ser negociada no mercado, o preço do MW/h era de R$ 306,74. Hoje, ela custa R$ 105,12 — preço do último leilão, realizado no ano passado. “Quando se analisam custos diretos e indiretos (como desapropriações e planos de mitigação de impacto ambiental) a energia eólica pode até ficar mais barata que a hídrica”, diz.

Influência externa - Os motivos para essa mudança são vários, mas um deles tem peso maior quando comparado com os outros: a crise internacional. “Essa turbulência abalou o mercado de contratação desse tipo de energia em outros países e deixou fabricantes de equipamentos com capacidade ociosa”, disse ao BRASIL ECONÔMICO o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. “Apesar da China ser hoje o maior mercado, ela ainda é muito fechada, o que fez com que empresas dos Estados Unidos e Europa migrassem para o Brasil, que é um país aberto e que adotou, nos últimos anos, um modelo de licitação bastante competitivo.”

O real valorizado, a política de incentivos fiscais e de subsídios do governo — que estimula o setor por meio do Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica), além da entrada no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na concessão de linhas de financiamento para o setor, também ajudaram a trazer bons ventos para os projetos de eólica do país. “Há 10 anos, a nossa realidade era outra, os custos eram muito altos e o incentivo quase não existia. Hoje, a situação é muito diferente e a energia eólica passou a ficar mais barata que a maioria das demais fontes, além de ser ambientalmente mais limpa”, afirma Lauro Fiúza Jr., presidente da Servtec — grupo que atua em vários estados do Nordeste (leia mais ao lado) — e ex-presidente da Abeólica, a associação que reúne as principais empresas do setor.

Fiúza afirma que a crise internacional e a inclusão das usinas que produzem energia a partir do vento nos leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abriu o mercado brasileiro para gigantes do setor como EDP, Iberdrola e EON. “E isso só trará benefícios para a expansão do Brasil nessa área.” (Brasil Econômico)


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