segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Apesar das usinas em construção, o país precisa de mais hidrelétricas

Em cinco anos, o Brasil poderá ter esgotado a contribuição dos três principais empreendimentos hidrelétricos em construção do país, as usinas de Belo Monte - no Xingu, no Pará -, Jirau e Santo Antônio - no rio Madeira, em Rondônia. A avaliação é do consultor Erik Eduardo Rego, diretor executivo da Excelência Energética Consultoria Empresarial e professor da Faculdade de Economia e Administração da USP. Rego usa a geração média prevista para as três usinas para mostrar que o simples crescimento da economia brasileira vai se encarregar de exigir novos investimentos em um futuro próximo.

"Belo Monte, por exemplo, tem capacidade de 11 mil megawatts, mas vai gerar 4,4 mil MW médios", diz. "Jirau e Santo Antônio, juntos, também vão produzir cerca de 4,5 mil MW médios. Com o crescimento da economia na faixa de 4%, o aumento da demanda é de 2,5 mil a 3 mil megawatts médios por ano. Ou seja, os três empreendimentos podem ser absorvidos em apenas três anos", completa. Segundo ele, como o país vai crescer um pouco menos, a situação é confortável pelos próximos cinco anos. E só.

O Plano Decenal de Energia divulgado este ano pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério das Minas e Energia, prevê que nesta década a demanda interna por energia vai crescer 60%. De acordo com a EPE, a capacidade instalada no Sistema Interligado Nacional irá crescer um pouco menos. Deverá evoluir cerca de 55%, passando de 110 mil megawatts em dezembro de 2010 para 171 mil megawatts no fim de 2020. O plano prevê aumento da eficiência energética na indústria, com redução do consumo médio e o equivalente à produção de uma geradora de 7 mil megawatts e a redução da geração hídrica de 76% para 67% da matriz elétrica. O crescimento de outras fontes se dará não só por vontade, mas por necessidade.

Segundo Rego, o que preocupa é que depois desses três projetos não há grandes perspectivas para novas usinas importantes. "Na região Norte, os grandes projetos terão em torno de 1 mil megawatts médios, o que é insuficiente para um ano de crescimento econômico." O governo terá de reforçar a aposta em geração eólica, por biomassa e, se as reservas do pré-sal permitirem, em térmicas a gás.

No campo da hidroeletricidade, as possibilidades de grandes geradoras se resumem, basicamente, ao rio Tapajós. Mas o próprio governo sinaliza que não será possível abrir as licitações para as duas usinas previstas - Tapajós e Jamanxim, no Pará - sem uma ampla negociação. Os pontos ideais para construção das duas hidrelétricas ficam em áreas de preservação, o que requer autorização do Congresso Nacional. Isso sem falar nas pressões e tentativas de barrar o licenciamento ambiental, como ocorreu com Belo Monte.

Para o economista, a pressão ambiental por usinas que operem por fio d"água - com reservatórios menores, para reduzir a área inundada - vai obrigar o governo a investir depressa em backups. Ele acredita que o rigor ambiental obrigará o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a pedir à EPE a previsão de novos mecanismos de complementação com as térmicas. Segundo ele, a tendência é de encarecimento dos preços da energia, por conta do custo mais elevado das térmicas. Ele diz que Jirau e Santo Antônio vão demandar investimentos em transmissão equivalentes à construção de mais uma usina e esse valor ainda não está considerado no custo da energia. Santo Antônio, por exemplo, custou R$ 15,1 bilhões. Assim, o preço da geração nos dois empreendimentos ainda vai subir pelo menos mais 30%.

Rego diz que o governo terá de investir em transmissão além dos valores previstos. "É inevitável reforçar a transmissão. Até para a segurança do sistema", diz. Uma das preocupações é o fato de que as novas geradoras estão concentradas. No caso das usinas eólicas, por exemplo, a maioria está na região Nordeste, e o problema se agrava, porque o sistema local é menos robusto e pode não suportar a colocação da oferta na rede. "Boa parte da energia gerada pelas eólicas no Nordeste terá de ser levada para longe". Segundo ele, essa tem sido uma preocupação de diversos setores da indústria, que reduziram o ritmo de expansão para aguardar a oferta de energia. No Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), os investimentos previstos em transmissão de energia são da ordem de R$ 46 bilhões. Um terço desse total será aplicado na construção de subestações.

Os problemas com a transmissão começam a aparecer. A Hidrelétrica de Santo Antônio coloca em operação sua primeira turbina neste mês, com capacidade de 71,6 megawatts. Antecipada em cinco meses, a entrada em operação da usina não vai resultar em benefício para o sistema elétrico por falta de transmissão. No começo, a energia será destinada a uma subestação provisória em Porto Velho (RO), informa a Santo Antônio Energia, empresa responsável pela hidrelétrica. O escoamento de toda a energia produzida depende da construção da Linha de Transmissão do Madeira - que também atenderá à usina de Jirau, que deverá entrar em operação na metade de 2013. (Valor Econômico)


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