quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Consumidores especiais de energia

Para um investidor do setor elétrico, as opções são tradicionalmente a venda de energia em leilões regulados ou a comercialização para grandes consumidores. Entretanto, há uma terceira via que vem crescendo significativamente no segmento e que possui um potencial enorme: os consumidores especiais. A grande fatia do mercado para os geradores são os leilões do ambiente de contratação regulada. Apenas por meio destes leilões se tem acesso às distribuidoras que representam quase 75% do consumo do país. Se por um lado oferecem contratos de longo prazo (15 a 30 anos) com empresas com bom nível de crédito, por outro o leiloeiro atua de forma implacável para espremer qualquer margem de lucro dos vendedores. Em busca de melhores condições contratuais, encontram o Ambiente de Contratação Livre (ACL). Nele atuam os grandes consumidores que podem adquirir energia de qualquer agente gerador ou comercializador.

Como o número de consumidores capazes de satisfazer os pré-requisitos legais é limitado, o ACL atingiu um elevado grau de maturidade, com o número de agentes relativamente estáveis e crescimento de demanda em linha com o Produto Interno Bruto. Discretamente, desponta uma terceira opção: os consumidores especiais. Este grupo é formado por unidades consumidoras que, isoladamente ou agregadas em união de fato (vizinhos) ou de direito (filiais), atinjam demanda mínima de 0,5 MW. Neste caso, podem adquirir energia de fontes incentivadas, isto é, usinas hidrelétricas, eólica ou biomassa com até 50 MW, recebendo um desconto na tarifa fio de pelo menos 50%, equivalente a algo como 10% de sua conta. Esse mercado mais do que dobrou de tamanho desde 2009, representando hoje cerca de 2% do consumo do pais e com tantos clientes quanto os participantes do ACL tradicional. Mais ainda, com o potencial de se agregar unidades consumidoras (condomínios, agências bancárias, redes de supermercado etc), a principal limitação para o crescimento deste segmento está no lado da oferta.

Por se tratar de um mercado capilarizado e bastante atrativo, os empreendedores devem desenvolver estratégias claras de atuação com diferenciais competitivos. Há muito a se ganhar se olharem (com ressalvas) para mercados internacionais onde até os consumidores residenciais optam livremente pelo seu supridor de energia. Também podem observar lições das empresas de outros setores do varejo nacional. Enfim, embora os leilões e os grandes consumidores ainda tenham sua atratívidade, existe uma terceira via. Com direcionamento estratégico adequado e olhando exemplos de mercados internacionais e do varejo nacional, é possível aproveitar as oportunidades existentes, se posicionar de forma competitiva e vencer essa corrida no mercado dos consumidores especiais.Autor: Antônio Farinha e Guilherme Susteras (Brasil Econômico)


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