Interessante em tese, já que o segmento, conforme reza a cartilha da gestão eficiente, necessita de escala para prosperar, na prática esse modelo tende a derrapar. Especialistas não veem muito futuro nessa empreitada. “Não basta unir. É preciso antes azeitar a regulação e garantir a sustentabilidade das operações”, comenta uma fonte.
Além dos nós a desatar, há um personagem pouco lembrado – o consumidor – que não teria vantagens visíveis a princípio. Pelo contrário. Não adianta o tour de force para integrar governanças corporativas distintas diante de uma política tarifária em revisão e sob fogo cerrado dos agentes.
“No curto prazo, uma tarifa mais baixa pode pesar menos no bolso, mas corre o risco de nivelar por baixo a qualidade técnica das distribuidoras”, alerta Ricardo Correa, analista da Corretora Ativa. Com taxa de retorno comprometida, o segmento está em xeque, comenta ele.
AES na mira
As justificativas para a superelétrica são muitas, a começar pela doutrina do atual governo de estimular a nacionalização da economia, fortalecendo grupos locais. A Camargo Corrêa, controladora da CPFL, é apontada como âncora do processo. Depois, há o desejo da Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, de dar um fim às suas participações cruzadas em Neoenergia e CPFL, resolvendo também no pacote supostas desavenças com o sócio espanhol, a Iberdrola.
Haveria ainda um desejo do governo federal de mandar a norteamericana AES para casa, ainda por conta do calote no BNDES que culminou na holding Brasiliana. Além disso, apagões sucessivos, falta de um projeto consistente no longo prazo e a demora em cumprir um passivo de ampliação obrigatória de geração despertaram a ira do governo paulista, que promete dar trabalho.
“Na agenda do governo, tirar a AES do Brasil faz sentido e está nos objetivos”, confirma Correa.
Pedras no caminho
Na lista de pendências para viabilizar a superelétrica, um fato surpreendeu o mercado. A Iberdrola, mesmo com dificuldades na Espanha, comprou a Elektro e aumentou seu cacife. Sempre vista como candidata à absorção pela CPFL, a distribuidora traz dose adicional de complexidade à amarração do negócio principal.
A equação mais complicada, porém, é fazer a AES Corp desistir do Brasil. Se o novo sócio da companhia – o fundo China Investiment Corp (CIC) – está mais interessado em oportunidades na Ásia, os americanos não cogitam abandonar o país, fonte imprescindível de recursos para sustentar outros planos pelo mundo. Sem Eletropaulo e Tietê, a AES Corp encolhe demais.
O BNDES, por seu lado, fez contas para sair da Brasiliana, de olho na fusão entre as redes de supermercados Pão de Açúcar e Carrefour. Como o negócio desandou, o banco recuou. Consultado, repete a informação padrão: não se manifesta sobre empresas listadas em bolsa. Além disso, para sair da holding e realizar o desejo do governo federal ao mesmo tempo, o BNDES teria de torcer para a AES Corp não exercer a preferência de compra e encontrar alguém disposto a bancar o drag along, comprando as partes de ambos.
Já para Carlos Lessa, presidente do banco à época da criação da Brasiliana, a venda não pode acontecer. Ele recorda o quanto foi trabalhoso chegar ao acordo e recomenda ao BNDES mais zelo por sua parcela na holding. (Revista Brasil Energia)
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