quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Petrobras assume o papel de grande geradora a gás

Dona da maior parte da produção do petróleo e do gás brasileiros, de 27 distribuidoras de gás, de plantas de fertilizantes e com participação acionária relevante na petroquímica, a Petrobras assume agora o papel de maior geradora de energia termelétrica do país. A empresa venceu o último leilão de energia do governo federal com um projeto de 500 MW e seus planos são o de crescer mais 2.000 MW até 2015, superando a capacidade de 8 mil MW.

A estatal federal vai se confirmar como a maior competidora para os investidores privados de térmicas no país, e que dependem do fornecimento de gás da empresa. Os planos da Petrobras são de disponibilizar gás para 4 mil MW de geração térmica, e metade será para ela mesma. "Temos um parque de seis mil MW já instalado e isso gera uma sinergia que naturalmente já nos dá competitividade", disse a diretora de gás e energia, Maria das Graças Foster, depois de evento realizado pela prefeitura de São Bernardo que discutiu os rumos do gás para a região do ABC Paulista.

A participação da empresa no último leilão do governo federal, realizado há duas semanas, foi fortemente criticada já que a companhia teve regras diferentes no fornecimento de gás. Grandes investidores privados alegam que por ser fornecedora a Petrobras não poderia participar da disputa, pois desiguala o jogo. "Será que o papel da Petrobras é também ser gerador de energia, já não basta ser dona do petróleo e do gás?", diz alto executivo acionista de uma grande geradora de energia do país que tem interesse em desenvolver projetos termelétricos.

Em rápida entrevista, Graça Foster diz que a Petrobras não teve vantagem alguma a não ser a de já ser uma grande geradora. A empresa vendeu sua térmica por R$ 104 o MWh da energia. Foi o preço mais alto do leilão, mas ficou muito próximo do preço auferido pela usina hidrelétrica de Jirau, que ficou em R$ 102 o MWh. Segundo Graça, não é possível colocar projetos térmicos para competir com hidrelétricos e que isso gera distorção dos preços. "Poderíamos até ter baixado mais, mas acabamos saindo e forçando a rodada discriminatória", disse Graça. O leilão é composto de duas fases. A chamada rodada uniforme em que os preços vão baixando e as ofertas, em quantidade, são oferecidas. A rodada discriminatória acontece quando algum competidor sai da disputa e a oferta atende o valor da demanda, então todos os ofertantes da rodada anterior participam do que é chamado "discriminatória" oferecendo seus preços finais.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) entende, entretanto, que ao colocar todas as fontes de energia disputando entre conseguiu diversificar a matriz pelo menor preço disponível no mercado. Se para o governo federal o leilão foi um sucesso, os investidores privados que dependem do gás da Petrobras se sentiram preteridos. A única empresa que competiu com a Petrobras foi a MPX porque é dona de um poço de gás no Maranhão e portanto fornece o combustível para si mesma.

A discussão em torno do leilão se deu porque as empresas que precisaram fechar contratas de fornecimento de gás com a Petrobras tinham que assinar contratos conhecidos como "take or pay" para gerar na média até 30% do tempo. O risco que se viu, entretanto, era de perder dinheiro já que não havia garantia de que as térmicas seriam solicitadas pelo operador por todo esse período. A maior parte saiu logo no início do leilão, quando o preço da energia estava em R$ 139 o MWh. A MPX, apesar de ter fechado contrato com empresa do mesmo grupo, fez um "take or pay" de 50%. Quando venceu o leilão, o presidente da MPX, Eduardo Karrer, disse ao Valor que pelo preço que vendeu a energia essa é a estimativa média do tempo que a térmica vai operar.(Valor Econômico)


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