Intensas tempestades, com fortes raios e ventos, têm se tornado cada vez mais comuns nos últimos anos e a previsão é que elas fiquem ainda mais frequentes e pesadas nas próximas seis décadas, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país, segundo estudo da Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica). Entre os inúmeros reflexos dessa mudança climática, os apagões viraram alvo de grandes discussões, que envolvem até mesmo ações judiciais.
Em São Paulo, o governo chegou a processar a Eletropaulo, principal distribuidora de energia do Estado – com 6,1 milhões de clientes -, por sucessivas falhas no fornecimento de luz no início de 2011 causadas, de acordo com a empresa, pelo meu tempo.
Segundo o estudo da Abradee, em 2010, foi registrado um aumento de 19% no índice que mede as ocorrências de falta de luz no país, e de 28% no tempo que dura cada uma delas. O crescimento ocorreu em comparação com os números de 2006. Em sua análise, a associação constata que, com a perspectiva de ampliação da frequência e intensidade das tempestades, “nenhuma empresa distribuidora está totalmente preparada” para o que qualifica como “situação extrema”.
Troca da rede - Em entrevista ao R7, o presidente da Abradee, Nelson Fonseca, disse que para evitar sucessivos apagões nos próximos anos seria necessário trocar a rede de distribuição de energia em todo país. Ele afirma que, atualmente, grande parte da rede é a mesma de 50 anos atrás, quase 100% aérea e, por isso, exposta aos fenômenos climáticos.
- Essas redes foram desenhadas para suportar [ventos de] 80 km/h, e hoje em dia estão acontecendo ventos cada vez mais intensos, que chegam a até 160 km/h. Elas [as redes] acabam não suportando.
Uma das alternativas para solucionar o problema seria a troca da fiação aérea por cabos subterrâneos, como o que foi feito em alguns pontos da capital paulista a exemplo da rua Oscar Freire. Porém, segundo Fonseca, o custo da mudança seria extremamente alto. Ele conta que o custo das redes aéreas hoje ativas no Brasil é de R$ 44 bilhões. Na hipótese de elas serem totalmente trocadas pela fiação subterrânea, o gasto seria de, no mínimo, R$ 440 bilhões.
Fonseca conta que, recentemente, a Abradee propôs a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) uma parceria para projetos de pesquisa de novos padrões de rede de distribuição, os quais as empresas seriam obrigadas a adotar. De acordo com ele, há outras soluções mais baratas que o aterramento de fios que poderiam ser adotadas no país.
- Não há apenas as redes subterrâneas como opção. Existem sistemas de cabos reforçados em que o gasto seria muito menor.
De acordo com o presidente da Abradee, até 2015, serão destinados ao setor R$ 11 bilhões por ano. Nos últimos quatro anos foram R$ 8 bilhões. Mas para se conseguir mudar o sistema de rede elétrica, seria necessário investir, no mínimo, R$ 20 bilhões. O que não adianta mais é fazer o mais do mesmo, é preciso estudar um sistema melhor para cada área do Brasil.
Prejuízos - Pouco mais de R$ 1 bilhão por ano é o prejuízo causado no Brasil apenas com os raios – sem levar em conta os ventos e chuvas intensas -, segundo o último levantamento feito pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Especiais), realizado em 2009. Mais da metade desse valor se refere apenas ao setor elétrico: R$ 600 milhões.
Para o professor da USP (Universidade de São Paulo) Alexandre Piantini, especialista em descargas atmosféricas e alta tensão, é necessário buscar redes mais preparadas para enfrentar as futuras tempestades.
- É preciso verificar cada região e aplicar diferentes soluções. Em um lugar onde tem alta densidade populacional, deve-se utilizar um sistema diferente de um que não tenha.
Uma das razões do problema na distribuição, segundo Piantini, é o fato de o Brasil ter quase toda sua energia vinda de hidrelétricas, afastadas dos centros distribuidores. Como o país é muito grande, as redes são bastante extensas, o que colabora para falhas no sistema.
Nova tecnologia - Por meio de sua assessoria, a Aneel afirmou que constantemente são estudadas e realizadas ações para melhorar a qualidade do sistema de distribuição de energia. Segundo a agência, já foi imposto “o desafio” para que as distribuidoras diminuam a quantidade e duração das interrupções de energia com a vantagem na diminuição das tarifas.
Ainda de acordo com a Aneel, está em análise a possível implantação de redes inteligentes, em que o consumidor poderá controlar o número de vezes que cai a energia, as oscilações de tensão e, assim, os clientes poderiam ajudar como “fiscais do abastecimento”. O plano é implantar o “medidor digital” em todo o Brasil, mas ainda não há previsão de quando ele chegará às casas e indústrias. ( R7)
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