terça-feira, 30 de agosto de 2011

Estreia no leilão de energia A-5 cria novo cenário para setor eólico

Acostumado com o prazo de três anos para entrada em operação das usinas, o setor eólico terá no leilão A-5 de dezembro, pela primeira vez, a mesma meia década de prazo para construção de projetos como as grandes hidrelétricas do Madeira ou Xingu. Rápidas de saírem do papel e às vezes comercializando energia de forma antecipada, as usinas terão, com a entrada nesse certame, a chance para um novo planejamento dos players, que buscam formas de otimizar o projeto em meio ao longo período para executá-lo.

Nesta segunda-feira (29/08), por exemplo, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou a entrada em operação do Mangue Seco 3, empreendimento eólico de 26MW no Rio Grande do Norte. O projeto, que venceu o leilão específico de 2009 e teria até o meio de 2012 para iniciar a geração, antecipa as atividades em quase um ano. A Eletrosul e a Elecnor também adiantaram usinas daquele certame.

"Essa receita extra com a venda de energia no mercado livre talvez permita uma tarifa mais arrojada. Essa antecipação é realmente estratégica, uma vez que hoje já se antecipa por volta de seis meses ou mais", avalia Marcos Miranda, diretor de desenvolvimento e operação da Inova Energy, empresa especializada em certificação da produção de energia eólica.

De toda forma, o executivo ressalta que também há um risco caso o empreendedor se comprometa a antecipar a venda de energia, o que Miranda não acredita que irá acontecer, principalmente por possíveis gargalos de logística e estrutura. Porém, é inegável que a comercialização antes do início do contrato firmado no certame estará na pauta dos investidores, como também destaca o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Ricardo Simões.

"Acho que vai aumentar a tendência de se construir parque com parte da energia dedicada ao mercado livre para atender o início da geração, que depois entra normalmente no contrato do leilão", afirma o especialista, que relaciona o cenário com o planejamento feito na venda de eletricidade por parte dos grandes potenciais hidráulicos. "Você passa a olhar a energia da eólica num modelo como o hidrelétrico", completa.

Ainda sobre o prazo mais longo, Simões lembra das centrais de conexão compartilhada, as ICGs. "Cria uma maior certeza em relação à conexão. As usinas que demandam ICG às vezes nos deixam preocupados, mas com o A-5 há tempo suficiente para pedir as linhas".

O presidente da Bioenergy, Sérgio Marques, vai na mesma linha. "Acho que o que motivou a EPE a colocar a eólica no leilão A-5 é que você tem muito problema de linha de transmissão no Brasil. Todas as linhas são radiais, porque o plano sempre foi com base em hidrelétricas. Então hoje, com os potenciais no litoral do Nordeste não há linha de transmissão". Assim, aponta Marques, o certame com maior prazo seria um instrumento usado para melhor planejar o sistema nacional.

Por fim, a tecnologia. Para o executivo da Bioenergy, "cinco anos para eólica é uma eternidade", e quem fechar os contratos agora "com certeza não irá colocar (em operação) o parque que vendeu", visto que a evolução dos equipamentos deve se manter constante nos próximos anos. "O ganho tecnológico em cinco anos é incrível no caso das eólicas. É só ver as usinas de cinco anos atrás e as de agora".

Em cima do tema, Simões, da Abeeólica, diz que "o salto tecnológico é sempre bem vindo", e confia que os projetos que vencerem o leilão de dezembro deste ano poderão até ter um ou dois anos para se adequar, caso desejem, antes de iniciar definitivamente a construção. (Jornal da Energia)


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