Será "gravíssimo" para a atração de investimentos em infraestrutura no Brasil a tentativa de alterar os contratos corrigidos automaticamente por índices de preços, alertou o presidente da Suez Energia, Jan Flachet, um dos maiores investidores do setor no país, participante do consórcio para a hidrelétrica de Jirau. Preocupado com o estouro da meta de inflação, o governo, segundo informou o Valor, na sexta-feira, estuda a desindexação da economia, com eliminação de correções de preços e contratos segundo índices de inflação.
"O ressurgimento da inflação não afeta nossa confiança nos investimentos de longo prazo porque há garantia de correção dos contratos", comentou Flachet, que recebeu com surpresa a notícia de estudos para eliminar a indexação no país, como outros executivos da construção civil presentes, na semana passada, na versão latino-americana do Fórum Econômico Mundial. "Para o investidor estrangeiro, é importante esse elemento de previsibilidade para investir no Brasil, é um ativo do país", defendeu.
Para um dos participantes do Congresso, embora nem todas a empresas com interesse em infraestrutura considerem a indexação tão vital para o equilíbrio financeiro de seus projetos quanto a Suez, mesmo companhias com proteção ("hedge") contra a escalada de preços rejeitariam mudanças sem cuidadosa negociação com o setor privado. A tentativa de renegociar contratos já firmados com cláusulas de indexação, comuns no setor de infraestrutura, afetariam a credibilidade do país, comentou outro dirigente de uma grande companhia do setor, dizendo não crer que o governo de Dilma Rousseff vá tomar essa atitude.
Dedicado às perspectivas da América Latina para esta década, o Fórum Econômico teve poucas discussões sobre as pressões inflacionárias em suas diversas mesas de discussão, nas quais foi mais presente o debate sobre os gargalos provocados pelo forte crescimento da região latino-americana - especialmente nos países da América do Sul. O assunto foi abordado diretamente no principal painel de discussão, na sexta-feira, pelo ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, para quem o combate à alta de preços tem prioridade até em relação aos esforços do governo para evitar a excessiva valorização do real em relação ao dólar, que prejudica a competitividade das empresas no país.
"O momento agora é de enfrentar o surto inflacionário", disse Pimentel. "Vamos sofrer mais um pouco com o câmbio, que não ajuda a industria, não ajuda o esforço do exportador", previu o ministro, prometendo "esforço" para minimizar o efeito da taxa de câmbio sobre "o setor produtivo fragilizado". O governo insiste, no entanto, que a causa quase exclusiva das pressões sobre os preços é a alta nas cotações de produtos básicos, as commoditties como combustíveis, aço e grãos.
Os empresários no Fórum apreciaram as referências feitas por Pimentel ao compromisso do governo em reduzir os gastos do setor público para reduzir o impulso inflacionário. Pimentel também revelou que o governo estuda medidas para reduzir o alto custo da energia no país, o mais alto do mundo. O ministro lembrou que quase metade dos preços de energia é composta de impostos, e indicou que o governo federal pretende discutir o tema com governos estaduais e municipais. O ministro reagiu com irritação, porém, quando jornalistas lhe pediram detalhes dos planos governamentais. Os custos de energia estão entre as pressões inflacionárias de que se queixam os empresários.
"O pior é a bomba de efeito retardado que será o aumento do salário mínimo", comentou o economista Roberto Teixeira da Costa, do Conselho de Empresários da América Latina (Ceal). Ele resumiu o espírito reinante entre os executivos no Fórum: uma visão positiva sobre a situação econômica de toda a América Latina, mas preocupações com os sinais de limite do crescimento que começam a surgir, especialmente no Brasil. "Não estamos em cenário de crise, mas de alerta", disse, declarando-se cético quanto ao poder dos juros para refrear a escalada inflacionária.
A perspectiva de melhoria no cenário internacional, que começa a apontar com indicadores positivos nos Estados Unidos, pode ter um efeito benéfico ao assegurar a demanda por commoditties, mas poderá interromper o aumento dos fluxos de capitais externos que vem financiando as contas externas no Brasil, notou ele. "O cenário de céu de brigadeiro acabou", sintetizou o economista. (Valor Econômico)
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