sábado, 25 de setembro de 2010

A nova fronteira da energia elétrica

Num futuro não muito distante, as pessoas poderão receber em casa, em vez da conta de luz, um cheque da distribuidora de energia como pagamento pela eletricidade gerada na própria residência e vendida ao sistema. Ou, mais provável, cortar seus gastos com energia elétrica em até 90%. Será possível, também, programar o uso de eletrodomésticos para ligá-los em horários de tarifa mais barata. Tecnologia para todas essas novidades existe, mas consumidores e distribuidoras do mundo inteiro estão apenas começando a tomar conhecimento dela.

No caso do Brasil, essas inovações começam a ser testadas num projeto de cooperação com os Estados Unidos. Sete Lagoas, em Minas Gerais, e Richland, no Estado de Washington, serão as cidades “cobaias” no uso da rede inteligente, ou “smart grid”, um conjunto de inovações tecnológicas que vai mudar a forma como se usa energia. “Vamos aprender juntos”, explicou o superintendente de Desenvolvimento e Engenharia da Distribuição da Cemig, Denys Cláudio de Souza. A Cemig é a responsável pela experiência pelo lado brasileiro.

“Usar smart grid é mais ou menos como mudar da máquina de escrever para o computador”, disse o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Ildo Wilson Grüdtner. Ele observou que as atividades de geração e transmissão de energia já incorporaram novas tecnologias, mas a parte de distribuição, que vai até as casas dos usuários, é a mesma de décadas atrás.

No momento, o governo está fazendo um mapeamento de tudo o que pode ser feito com o “smart grid” para, se for necessário, criar novas regras para o relacionamento entre usuários e concessionárias. O experimento em Sete Lagoas será útil para indicar que caminho poderá ser seguido pelo Brasil.

Fazer negócios. Mais do que isso, o trabalho em conjunto com os EUA servirá para fazer negócios, segundo explicou o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Reginaldo Arcuri. “Não queremos mais um debate acadêmico, e sim abrir espaço para as empresas pensarem em negócios conjuntos”, diz Arcuri.

Se as empresas brasileiras conseguirem uma boa inserção no mercado americano, elas estarão em vantagem porque o uso do “smart grid” está em estágio inicial no mundo inteiro.

O uso conjunto do “smart grid” deve ser a estrela da 2ª Conferência de Inovação Brasil-Estados Unidos, que começa esta semana na capital americana. A parceria entre distribuidoras de energia, empresas de software e fabricantes de equipamentos dos dois países é um dos resultados mais concretos da 1ª Conferência, realizada no Brasil há três anos. “Buscamos uma entrada mais eficiente no tecido econômico dos EUA”, diz Arcuri.

“Em algumas coisas, estamos à frente dos americanos”, disse o empresário Gilberto Teixeira, da Elo Electronic Systems, fabricante de medidores inteligentes. “É bom para o ego e bom para os negócios.”

Outro resultado do trabalho conjunto dos dois países foi a produção de uma peça importante para transformar o etanol em uma commodity internacional.

Etanol padronizado. O Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) e seu correspondente nos EUA, o National Institute of Standards and Technology (Nist), criaram uma amostra-padrão para o etanol.

Ela serve como modelo para calibrar equipamentos que vão certificar a homogeneidade. Essa amostra permite que os países adotem o novo combustível sabendo que vão adquirir um produto com características padronizadas. “Estamos vendendo para a União Europeia”, contou Roberto Alvarez, gerente de Assuntos Internacionais da ABDI.

Três empresas brasileiras de alta tecnologia e três americanas poderão ainda testar os mercados umas das outras com o apoio da academia. A Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul e a Universidade do Arizona firmarão um acordo durante a 2ª Conferência segundo o qual funcionarão como incubadoras. 

A intenção, segundo o professor Dario Azevedo, da PUC-RS, é proporcionar um pouso suave das empresas brasileiras num mercado com cultura e regras diferentes como o americano. “A ideia surgiu nos laboratórios que realizamos após a 1ª Conferência”, explicou. “Vamos trabalhar na formação da empresa, na sua colocação de mercado e assim reduzir os traumas iniciais.”  (O Estado de São Paulo)
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