sexta-feira, 14 de março de 2014

Repasse para a conta de luz vai ter impacto na inflação de 2015

SÃO PAULO - O pacote do governo de socorro ao setor elétrico é um anúncio "de mais inflação para frente", avalia o economista Fábio Romão, da LCA Consultoria. "Mais um elemento que dificulta o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficar dentro dos 6,5%, que é o topo da meta de inflação. O cenário já não é bom, e esse é mais um fator que pesa. É uma equação difícil de fechar", afirmou.

Para ele, "o impacto deve ficar mais para a frente, pois há um escalonamento do repasse ao longo do tempo. Além disso, pode ter reflexo indireto em outros preços da economia, pois interfere no preço de outros produtos e não apenas na energia residencial. Segundo Romão, as medidas também terão impacto fiscal, embora ainda não seja possível estimar o peso dos novos aportes.

Na opinião de Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, seria melhor o governo promover um ajuste imediato de tarifa, mesmo que escalonado, ainda que gere impacto na inflação. Para ela, seria uma alta momentânea, diferente de um processo inflacionário. "Não ajustar a tarifa é um sinal equivocado", avalia.

"A sociedade tem de ter maturidade para entender que é um momento de ajuste e que o consumo de energia precisa ser desestimulado", diz Zeina. Para ela, uma medida nesse sentido ajudaria até mesmo a melhorar a imagem externa do Brasil.

O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves, considera o pacote positivo, dada a situação de incerteza que havia entre as distribuidoras. "O pacote sinaliza como e quem vai pagar a conta do aumento do custo de energia." 

Do ponto de vista dos preços, Gonçalves diz que o repasse de parte desse custo para a conta de luz dos consumidores terá impacto inflacionário em 2015. Mas observa que ainda não estimou quanto o IPCA do ano que vem pode subir por causa disso. "Mas essas medidas vão doer na tarifa do ano que vem".

Felipe Salto, da Tendências, vê o pacote como "correto para equacionar uma conta que não fechava, mas a um custo elevado", que será o impacto na inflação, nas contas públicas e nos programas que deixarão de receber investimentos porque o governo terá de usar recursos para bancar parte da conta.

Juros. Romão diz que o anúncio "reforça a expectativa de aumento da taxa Selic nas próximas duas reuniões do Copom, de abril e maio, em torno de 0,25 ponto porcentual". Em relação à inflação, ele lembra que o mercado já previa um aumento de preços nas distribuidoras de energia, estimados em 6,7% em relação aos preços consolidados no conjunto de distribuidoras do País. "Em comparação ao ano passado, quando houve queda de 15,7%, é muito".

O economista-chefe do Besi Brasil, Jankiel Santos, ressalta que, além de não indicar claramente qual será o ônus do consumidor final, o governo não informou quais tributos poderão ser elevados para compensar o aporte adicional do Tesouro à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Em sua avaliação, dúvidas ainda persistem. "O governo diz que vai ter o recurso, mas não diz de onde vem; diz que vai aumentar imposto, mas não diz qual." (O Estado de S.Paulo)
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