quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Metade dos projetos de transmissão está fora do prazo

Levantamento em relatório de fiscalização de obras da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aponta que metade dos projetos de expansão e modernização da rede de transmissão de energia no país enfrentam problemas de atraso. São 448 obras, entre construção, ampliação e requalificação de linhas e subestações, das quais 227 estão atrasadas. Para técnicos do setor, as dificuldades na conclusão dos empreendimentos vão desde a demora no licenciamento ambiental a problemas de gestão, passando por questões fundiárias e judiciais. 

Anteontem, dois curtos circuitos no sistema de integração Norte-Sul provocaram um apagão que atingiu cidades em 11 estados. As causas do incidente estão sendo investigadas por uma comissão liderada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), mas o governo já descartou relação com o “estresse” que vive o setor elétrico brasileiro, com reservatório sem baixa e consumo impulsionado pelas altas temperaturas. Pouco antes do apagão, a região Sul do Brasil havia batido recorde de demanda, atingindo a carga de17,4 mil megawatts (MW) às 14h. 

Especialistas ouvidos pelo Brasil Econômico dizem que não é possível relacionar os atrasos em obras de expansão com o apagão de anteontem, mas afirmam que a demora na entrada de novos projetos sobrecarrega a rede de transmissão. “Essas obras foram planejadas para reforçar o sistema e, se não entram no prazo previsto, as linhas existentes ficam sobrecarregadas”, diz um técnico com passagem pela área energética do governo. “É preciso agilizar os empreendimentos”, conclui. 

Ontem, a presidenta Dilma Rousseff se reuniu com a ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira e teria cobrado maior agilidade na concessão de licenças. O problema é recorrente. Já em 2004, quando era ministra de Minas e Energia, Dilma cobrava publicamente maior velocidade no processo de licenciamento. Mas, segundo técnicos, a questão ambiental não é o único empecilho às obras. Há casos de judicialização do processo e de dificuldades em negociações com proprietários de terra e prefeitos, além de problemas para cumprimento do prazo por parte dos empreendedores. 

No Nordeste, por exemplo, hoje há parques eólicos prontos sem poder operar por falta de linhas. A Aneel calcula um prejuízo de cerca de R$ 30 milhões por mês como pagamento pela capacidade dos projetos, mesmo que não estejam gerando energia. Responsável pelas obras, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), já chegou a ser multada, mas alegou que o prazo determinado em contrato é curto demais.Técnicos consultados pelo Brasil Econômico reconhecem que o sistema de proteção da rede de transmissão funcionou corretamente após as falhas de anteontem,limitando o corte no fornecimento a regiões pré-estabelecidas pelas distribuidoras. 

“Curto circuito é natural em linha de transmissão. Mas a pergunta agora é: porque ocorreram dois em sequência?”, questiona um especialista. A interligação Norte-Sul tem três circuitos e, com a queda de dois deles, o terceiro ficou sobrecarregado e foidesligado automaticamente. Governo avalia ajuda às distribuidoras. Questionado se o governo a portaria mais recursos para a Conta de Consumo Energético (CDE) por conta da seca neste ano (o orçamento prevê R$ 9 bilhões), o ministro da Fazenda Guido Mantega, disse que vai esperar as chuvas antes de decidir.

“Por enquanto é um problema de janeiro e fevereiro (sobre as falta de chuvas). Teremos que esperar um pouco—mas estaremos dando cobertura para esse problema de forma que isso não passe para o consumidor final”, afirmou. As distribuidoras reclamam de prejuízos coma compra de energia a preços mais altos. (Brasil Econômico)
Leia também:
Apagão repele investidores 
Apagão ressuscita o risco de racionamento
Queda de raio volta a ser cogitada como causa de apagão
Novo modelo de concessões inibe investimentos em transmissão
Governo afirma que socorro às elétricas deve superar R$ 9 bilhões