A novela em torno do grupo Rede, que se arrasta há anos, chegou ontem a um capítulo decisivo. O juiz da 2ª Vara de Falências de São Paulo, onde tramita o processo de recuperação judicial das cinco holdings do grupo paulista, aprovou o plano de aquisição proposto pela Energisa, controlada pela família Botelho, de Minas Gerais. A proposta depende agora do sinal verde da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que há um ano administra as oito distribuidoras do Rede, além do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Mas o principal obstáculo, a aprovação do plano de recuperação pela Justiça, foi superado, após dois meses de impasse. Os credores do grupo Rede votaram o plano proposto pela Energisa em assembleia realizada no início de julho, mas o resultado da votação continuava em aberto. Uma parte dos credores, que era contrário à oferta, questionava o voto do FI-FGTS, que votou a favor da Energisa. A decisão final coube ao juiz.
A operação vai custar à Energisa cerca de R$ 3 bilhões. A empresa se comprometeu a pagar R$ 1, 9 bilhão aos credores e a investir mais R$ 1,1 bilhão nas oito distribuidoras. Jorge Queiroz, herdeiro e dono do grupo Rede, vai receber um valor simbólico de R$ 1,00. Com a aquisição, a Energisa sobe, de uma só vez, vários degraus entre os maiores grupos do setor elétrico brasileiro. Em ativos, o grupo salta de R$ 5 bilhões para R$ 13,6 bilhões. Em receita líquida anual, a companhia sai de R$ 2,9 bilhões para R$ 8,2 bilhões.
Em entrevista ao Valor PRO, serviço em tempo real do Valor, Ricardo e Mauricio, herdeiros e principais executivos da Energisa, afirmaram que a aquisição do Rede é uma oportunidade rara. "Trata-se de uma situação única para o grupo", disse Ricardo. Fundado há 108 anos, a Energisa originou-se da Companhia de Força e Luz Cataguazes-Leopoldina. O próximo passo da Energisa será a apresentação de um plano de recuperação das oito distribuidoras para a Aneel, que deve ser entregue até o fim deste mês. A empresa também terá de captar recursos para bancar a aquisição. "Já temos asseguradas linhas de crédito e temos uma estrutura financeira montada [para financiar a aquisição] ", disse Maurício.
A empresa não terá de desembolsar todos os R$ 3 bilhões previstos na operação imediatamente. Quanto aos credores do Rede, explicou Ricardo, eles ainda vão escolher, nos próximo 60 dias, entre as três alternativas apresentadas para quitação dos empréstimos. E eles podem optar pelo prazo mais longo. Desta forma, a necessidade de caixa será menor. As cinco holdings de Queiroz acumulam dívidas de R$ 3,4 bilhões, segundo um levantamento feito pela consultoria Apsis. O grupo deixa, portanto, um calote de, pelo menos, R$ 1,5 bilhão, considerado um dos maiores do país.
Quanto ao plano que será apresentado para a Aneel, Ricardo afirma que existem 60 pessoas trabalhando neste momento em um diagnóstico. "Temos certeza que o plano irá satisfazer os reguladores". Segundo Thomas Felsberg, advogado do grupo Rede, todas as indicações levam a crer que a Aneel aprovará a transferência do controle para a Energisa. "Sentimos que há um apoio generalizado", disse o advogado, ressaltando que o próprio diretor-geral da agência, Romeu Rufino, já se manifestou favoravelmente ao negócio. O Rede está presente no interior de São Paulo e Paraná e havia se expandido para o Mato Grasso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. A Energisa possui cinco distribuidoras, em Minas Gerais, Nova Friburgo (RJ), Paraíba, Borborema e Sergipe. (Valor Econômico)
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