BRASÍLIA A presidente Dilma Rousseff descartou ontem a possibilidade de o Brasil enfrentar racionamento de energia e atribuiu a falha humana a maioria dos problemas de interrupção de energia que vêm acontecendo nos últimos meses no país. Em café da manhã com jornalistas, Dilma chegou a mostrar um mapa das quedas de raios nos últimos dias 23, 24 e 25 para afastar a hipótese de que é esse tipo de fenômeno natural responsável pelas quedas de energia. Segundo ela, raios caem, e o sistema deve estar preparado para esse tipo de ocorrência.
- O dia em que falarem para vocês que caiu raio (e por isso o sistema caiu), gargalhem. Raio cai todo dia neste país, a toda hora. O raio não pode desligar o sistema. Se desligou, é falha humana, não é do raio. Raio é derivado de uma coisa chamada chuva, que é crucial para o sistema hidrotérmico funcionar. Não é sério dizer que a culpa é do raio, nossa briga é impedir que, quando o raio caia, o sistema pare - disse Dilma. - Acho ridículo dizer que no país vamos ter risco de racionamento (de energia).
Durante quase um hora e meia, a presidente conversou com os jornalistas, focando nas questões econômicas e, em especial, nos problemas de falta de energia. A presidente disse que a expressão "apagão" foi usada no passado. Depois, no fim do encontro, ela voltou a negar que o país esteja vivendo uma crise de energia:
- Não tem crise no Brasil, pelo contrário. O Brasil é hoje um país que não tem a menor crise de racionamento. Nós estamos fazendo todo o possível. É meu compromisso insistir junto ao setor elétrico para que essas interrupções na área de transmissão de energia e na área de distribuição de energia sejam superadas.
Dilma também afirmou ontem que o país vai crescer mais no próximo ano e que tem feito o "possível e o impossível" em nome do crescimento do PIB em 2013. A presidente destacou que o governo vem tomando medidas, como a redução dos juros e desoneração da folha de pagamentos, para garantir o crescimento sustentável da economia brasileira. Ela ainda defendeu a aprovação de medidas pontuais que modifiquem o sistema tributário brasileiro.
Os apagões e os problemas de manutenção do sistema elétrico
A presidente Dilma afirmou que é preciso fazer uma distinção entre problemas do passado, quando houve apagões de energia porque o Brasil não tinha linhas de transmissão suficientes, e o que vem ocorrendo atualmente. Para ela, as falhas atuais estão relacionadas à falta de manutenção nos equipamentos existentes. Dilma afirmou que muitas vezes os novos investimentos são privilegiados, e a manutenção fica em segundo plano. Segundo a presidente, durante seu governo as duas frentes devem ser priorizadas, mantendo investimentos mas sem esquecer de realizar a manutenção do sistema.
- Apagão se usou quando o Brasil inteiro ficou às escuras, não se tinha linhas de transmissão. Temos que atualizar tudo o que for planta velha. Agora vamos fazer as duas coisas porque temos dinheiro para isso. Quem tem de dizer, quem tem de investir no sistema elétrico é o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Se não disser, não tem ordem de investimento - afirmou. - O sistema elétrico tem de ser implacável com interrupções, não podemos conviver com isso.
A presidente ainda negou influência política na falta de manutenção de empresas de energia já existentes no país. Segundo ela, trata-se de um comportamento que atinge tanto empresas privadas quanto públicas.
- É preferível fazer novo investimento do que modernizar o velho, porque a tendência é de que seja menos rentável. Não é um comportamento de influência política, mas da dinâmica do processo. É mais difícil de fiscalizar. Na área de energia nuclear, temos dois níveis de fiscalização, uma empresa fiscaliza a outra. Na Eletrobras estamos fazendo isso.
Sobre a renovação dos contratos com as concessionárias de energia, a presidente voltou a dizer que o Brasil cumpriu contratos, mesmo com tarifas mais altas, mas que não há compromisso com a renovação, em uma referência indireta a empresas de energia de São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. As empresas se recusaram a aceitar o acordo proposto pelo governo, que garantiria a redução das tarifas.
- Houve, de fato, aumento tarifário. Estavam em contratos feitos quando o Brasil era outro, o risco Brasil era de mil pontos. O custo da tarifa pagava o risco Brasil. E aguentamos isso porque estava em contrato. Este país não rompeu contrato, aguentou no osso do peito. Agora, sem quebra de contrato, podemos rever a tarifa porque não temos obrigação de renovação do contrato (de concessão de energia). (O Globo)
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