Pesos pesados do setor industrial, liderados por Votorantim, Alcoa e a petroquímica Braskem, que são grande consumidores de energia e qualificados no grupo dos eletrointensivos, vão se reunir hoje pela manhã, em Brasília, com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), relator da Medida Provisória (MP) 579. O encontro é para discutir o aperfeiçoamento do documento, que trata da renovação das concessões do setor elétrico que vencem entre 2015 e 2017. Institucionalmente, estarão representados pela Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), com presença de executivos das companhias.
A associação reúne 46 empresas brasileiras eletrointesivas - que têm custo de energia significativo em seu processo de produção. A entidade pretende sugerir a Renan a alocação de uma expressiva parte da energia "velha" que virá das hidrelétricas que aceitaram a renovação para o mercado livre, de forma a conseguir mais redução na tarifa. Pela MP, essa energia será toda destinada ao mercado cativo.
Com essa transferência - cerca de 4 mil MW -, o desconto da energia do mercado cativo, no entanto, cairia de R$ 17,00 para R$ 14,00 ou R$ 15,00 por MWh. Essa diferença, segundo informou Franklin Feder, presidente da Alcoa, ao passar para o mercado livre, poderia levar o setor industrial a obter, de fato, os 28% de redução tarifária anunciada pelo governo em setembro.
Sem isso, Feder diz que o setor calculou que as medidas previstas na MP trariam um desconto de apenas 10% a 12% para o setor industrial. "Estou otimista em relação ao aperfeiçoamento da medida provisória", diz o executivo da Alcoa na América Latina e Caribe.
Para o setor ser competitivo e ficar em linha com a média mundial, o custo da energia no país deveria ser de R$ 80,00 o MWh (US$ 40). Com a proposta, que já foi encaminhada em carta da Abrace ao relator, a tarifa baixaria dos atuais R$ 135,00 para R$ 97,20 o MWh.
"O que se debate neste momento é o futuro da indústria de alumínio no Brasil" afirmou Feder. Ele não cogita, apesar de constante questionamento da direção mundial da companhia, ter de fechar uma das duas fundições que opera no Brasil - Poços de Caldas (que faz 96 mil toneladas do metal por ano) e Alumar, em São Luís (265 mil toneladas).
"O Brasil é competitivo quando não consideramos os custos de energia", diz Feder. A bauxita [minério que é a matéria-prima básica] brasileira é de boa qualidade, mas os números mostram que o custo energético acaba eliminando a vantagem competitiva dos demais fatores. "Quando as despesas com energia são retiradas da conta, o custo do Brasil cai para US$ 1.320 por tonelada de alumínio produzida, abaixo da média mundial - US$ 1.430.
A energia é um dos principais custos na produção de alumínio. Com o preço do metal e a variação cambial, ela forma o tripé que guia o negócio internacionalmente. No Brasil, sua participação chega a 50% em alguns casos, sendo que o ideal, afirma o executivo, seria algo entre um quarto e um terço do custo total. "Na nossa unidade de Poços de Caldas, o custo de produção está na faixa de US$ 2,1 mil a tonelada, enquanto o preço do metal na Bolsa de Londres (LME) é negociado em torno de US$ 2 mil a tonelada".
Além de discutir com o governo o aperfeiçoamento da MP 579, a Alcoa tem outra frente de negociação para conseguir reduzir, na prática, seus custos de energia. A empresa precisa renegociar com a Eletronorte, subsidiária da Eletrobras, seu contrato de fornecimento de energia para a Alumar, em São Luís (MA), que vence em 2024.
Para obter a redução tarifária estabelecida pela MP 579 - um desconto de R$ 14 em relação ao preço atual, que está acima de US$ 60 - terá de mudar os termos contratados. A Eletronorte resiste em repassar integralmente à empresa os descontos previstos pela medida.
O desconto reduz o preço da energia da Eletronorte para R$ 110 o MWh. No entanto, a redução não levaria a fabricante de alumínio ao nível competitivo, pois a média global é de R$ 80,00 o MWh. (Valor Econômico)
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