As incertezas em torno do futuro da Centrais Elétricas do Pará (Celpa), que está imersa em dívidas de R$ 3 bilhões, terminaram ontem, quando a Equatorial Energia entregou finalmente, à Justiça de Belém, o contrato para aquisição da distribuidora de energia, que pertence ao grupo Rede Energia.
A Equatorial, controlada pela administradora de fundos de private equity Vinci Partners, pagará o valor simbólico de R$ 1 pelo controle e terá de injetar imediatamente R$ 350 milhões na distribuidora. Nos próximos dois anos, está previsto o aporte de outros R$ 350 milhões pelo menos.
Os investidores reagiram bem. As ações ordinárias da Equatorial subiram ontem 5,3%, encerrando o pregão a R$ 17,75, o que elevou o valor de mercado da empresa para R$ 1,9 bilhão. Em setembro, os papéis da Equatorial já se valorizaram 14%, acumulando neste ano uma forte alta de 45%.
Com a aquisição, a Celpa escapou de ter o mesmo destino das outras oito distribuidoras de energia do grupo Rede, que estão sob intervenção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) desde o início de setembro.
A agência reguladora só não interveio na distribuidora do Pará porque a companhia já estava em processo de recuperação judicial e havia recebido uma proposta da Equatorial, mas as negociações se arrastavam há três meses. Na semana passada, a juíza Maria Filomena de Almeida Buarque, encarregada da recuperação da Celpa, deu um ultimato à Equatorial, que perderia a exclusividade nas negociações se não assinasse um compromisso formal de compra. O prazo estipulado pela juíza terminou na segunda-feira e já haviam sido iniciadas as negociações para vender a Celpa para o grupo J&F, que também demonstrou interesse pela distribuidora.
A venda para a Equatorial foi finalmente fechada ontem à tarde, na sala da juíza em Belém, quando o contrato recebeu a última assinatura que faltava, a da presidente e representante de um dos acionistas da Rede Energia, Carmem Pereira. O herdeiro e controlador do grupo, Jorge Queiroz, assinou o documento no dia anterior e não foi ao Pará, disse uma fonte.
Apesar dos sérios problemas financeiros da Celpa, a aquisição é vista com um bom negócio para a Equatorial, que já possui um histórico positivo na Cemar, distribuidora de energia do Maranhão. Com os ciclos de revisão tarifárias, aos quais estão sujeitos as distribuidoras de energia a cada quatro anos, os ganhos de escala tornam-se ainda mais cruciais para as empresas, que precisam diluir custos.
A Celpa e a Cemar passaram por trajetórias semelhantes. A Celpa foi comprada pelo grupo Rede em 1998, enquanto a Cemar foi privatizada no ano 2000, quando foi adquirida pela americana Pennsylvania Power & Light (PPL).
A distribuidora maranhense passou a enfrentar problemas financeiros em 2001 e, no ano seguinte, chegou a sofrer uma intervenção da Aneel. Passados dois anos e meio, a SVM Participações, empresa controlada pelos fundos da GP Investimentos, comprou o controle da companhia pelo valor simbólico de R$ 1, assumindo também a dívida de R$ 820 milhões. Como parte do processo de reestruturação financeira, em abril de 2006 o controle acionário da empresa passou para a Equatorial Energia. Por fim, ainda em 2006, a GP Investimentos e o Banco Pactual resolveram lançar as ações da holding em bolsa e levaram à captação de R$ 540,2 milhões, do quais R$ 180 milhões com a emissão de novas ações.
A situação da Cemar é hoje bem diferente do passado. No segundo trimestre deste ano, a empresa teve receita operacional de R$ 544,6 milhões e lucro de R$ 57,9 milhões, com relação dívida líquida/Ebitda baixa, equivalente a duas vezes. (Valor Econômico)
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