O movimento de fusões e aquisições no setor elétrico brasileiro vai se intensificar nos próximos anos. De acordo com a consultoria Price waterhouseCoopers (PwC), a tendência de aumento do número e do valor das operações no segmento se deve principalmente ao terceiro ciclo de revisões tarifárias das distribuidoras, iniciado este ano.
O processo, no qual a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) reduziu a taxa de rentabilidade das empresas de 9,95% para 7,5%, vai estimular a consolidação do mercado. Com margens menores, as distribuidoras precisarão ganhar escala para reduzir custos.
Segundo Guilherme Valle, sócio da Price e especialista no setor de energia elétrica, outro fator que pode estimular as negociações entre empresas do setor é o vencimento das concessões de geradoras (21,7 mil MW de energia), transmissoras (73,7 mil quilômetros de linhas) e distribuidoras (41 empresas) entre 2015 e 2017. Mesmo que as concessões sejam prorrogadas, o governo pretende reduzir a taxa de retorno desses ativos, o que poderá estimular novas negociações no setor.
Valle destacou também o caso da Celpa, distribuidora paraense do grupo Rede que está em processo de recuperação judicial. A empresa despertou o interesse dos fundos de investimentos Laep e GP, especializados em recuperação de empresas, e da estatal mineira Cemig.
Outra elétrica que pode ser alvo de negociação é a Neoenergia. A espanhola Iberdrola estuda se desfazer da sua participação de 39% na companhia, caso não obtenha êxito na sua tentativa de assumir o controle da empresa, hoje nas mãos do fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), com 49,01%.
"No Brasil há claramente uma tendência de consolidação. O movimento já começou e vem se acentuando com o tempo", afirmou Valle. O sócio da Price ressaltou ainda a compra pela alemã E.On de 10% de participação na MPX no valor de R$ 850 milhões, concluída em abril.
Outros negócios fechados no segmento de energia este ano foram a aquisição pela Light da Guanhães Energia, a compra da União de Transmissoras de Energia Elétrica pela Taesa e a venda de sete projetos de transmissão do grupo espanhol Actividades de Construccion y Servicios (ACS) para a chinesa State Grid.
As fusões e aquisições no setor elétrico brasileiro foram destaque em 2011. De acordo com o "Power Deals: 2012 Outlook and 2011 Review", publicado este ano pela Price, a compra da distribuidora Elektro pela Iberdrola, no início de 2011, foi a décima maior operação no segmento em âmbito mundial no ano passado, no valor de US$ 2,9 bilhões.
A operação foi a principal responsável pelo salto de 107% no valor das fusões e aquisições no setor nas Américas do Sul e Central, de 2010 (US$ 4,4 bilhões) para 2011 (US$ 9,1 bilhões). A região ficou atrás apenas da América do Norte, que registrou crescimento de 119%, na mesma comparação, impulsionado principalmente pela movimentação no mercado de gás natural de xisto, nova aposta americana, devido ao baixo custo de produção do energético.
As Américas do Sul e Central também aumentaram, de 6% para 10%, sua participação no número de fusões e aquisições de companhias de energia no planeta, que totalizou 583 negócios em 2011. Em termos de valores, a participação da região cresceu de 3% para 5%. O valor total das operações entre empresas de energia no mundo ano passado foi de US$ 174,5 bilhões.
Desde o processo de privatizações do setor elétrico brasileiro, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (de 1995 a 2002), que o segmento tem sido palco de grandes fusões e aquisições. O movimento se intensificou com a implementação do atual modelo regulatório do setor, em 2004, que estimulou o ganho de escala e o aumento de eficiência operacional.
Entre os principais negócios fechados nos últimos anos estão a compra pela Cemig de parte das ações da italiana Terna no Brasil (atual Taesa) e da Light, a aquisição pela CPFL de cinco distribuidoras paulistas, e o leilão de privatização da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), vencido pela colombiana ISA. Outra operação relevante foi a fusão entre a CPFL e a Ersa em projetos de fontes alternativas, criando a CPFL Renováveis, em 2011. (Valor Econômico)
Leia também:
* Pinga-Fogo Setor Elétrico: ONS, BNDES, Concessões e Câmara
* O menor preço em energia eólica
* Empresas consomem mais no mercado livre, diz estudo
* Participação de renováveis na matriz elétrica aumenta e eólicas se destacam
Leia também:
* Pinga-Fogo Setor Elétrico: ONS, BNDES, Concessões e Câmara
* O menor preço em energia eólica
* Empresas consomem mais no mercado livre, diz estudo
* Participação de renováveis na matriz elétrica aumenta e eólicas se destacam