segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Eólica: Um ano para não esquecer

O mercado eólico brasileiro dificilmente terá um ano com ritmo tão acelerado como 2011. O país alcançou o primeiro gigawatt de capacidade instalada, registrou o preço mais baixo do mundo e se tornou o único em que a energia eólica é mais barata do que a térmica e a hidrelétrica. Também foi inaugurada a primeira usina negociada em leilões e a primeira voltada para o mercado livre. O número de fabricantes de aerogeradores instalados no Brasil triplicou, e foi contratado um volume de energia 42% maior que o do ano anterior.

Foram vendidos 2.905,5 MW eólicos no Brasil – 1.929 MW nos leilões A-3 e de reserva, em agosto, e 976,5 MW no A-5, em dezembro. O volume é mais que o triplo da expansão anual, de 894 MW, prevista no Plano Decenal de Expansão de Energia 2020, da EPE. A expectativa é que o país chegue a 7 GW de capacidade eólica instalada em 2014.

“Foi o ano da energia eólica no Brasil. O ano que garantiu sua inserção na matriz energética”, confirma Élbia Melo, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). A própria executiva assumiu o cargo em setembro, como parte de processo de profissionalização da associação por conta do crescimento do setor. “Houve um grande salto. Estamos muito perto da consolidação do setor.”

Recorde de preço - 2011 começou em abril para o setor eólico, quando foi alcançado 1 GW de potência instalada com a entrada em operação do parque eólico Elebrás Cidreira 1 (70 MW), da EDP, em Tramandaí (RS). A marca foi celebrada sete anos após o lançamento do Proinfa.
Dois meses depois, em junho, entrava em operação a primeira usina contratada fora do Proinfa: Cerro Chato (90 MW), em Santana do Livramento (RS). O complexo de Eletrosul e Wobben Windpower foi negociado no leilão de 2009 e começou a funcionar antes do previsto, mostrando que a fonte era viável mesmo em um ambiente competitivo.

Ainda assim, a maior parte do setor elétrico foi pega de surpreas dois meses depois, em agosto, quando a eólica se tornaria não só a segunda fonte mais competitiva do país, como a mais barata do mundo. Nos leilões A-3 e de reserva, em agosto, as eólicas foram negociadas a um preço inferior ao das térmicas a gás natural – algo inédito no mundo – e mesmo de algumas hidrelétricas de grande porte.

 valor médio de R$ 99,56/MWh, alcançado nas concorrências, colocou o mercado nacional em evidência e tem até inspirado países a seguir o mesmo modelo de contratação para energias renováveis.

“É um momento importante não apenas para o Brasil, mas para o mercado mundial de eólica. Está havendo uma quebra de paradigma. O que estamos fazendo aqui provavelmente redefinirá os padrões da indústria mundial de eólica”, afirma o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim.

O resultado foi possível graças à combinação de um mercado internacional estagnado e um modelo de contratação que estimula a competição entre os empreendedores. O leilão forçou ao máximo os preços para baixo ao colocar as eólicas para competir não somente com biomassa e PCHs, mas também com térmicas a gás natural e hidrelétricas. Ao mesmo tempo, a redução da demanda por conta da crise econômica dos EUA e da Europa reduziu as vendas dos fabricantes, o que permitiu derrubar valores.

Com demanda fraca no exterior e forte crescimento no Brasil, os maiores fabricantes do mundo se voltaram para o mercado nacional. Os fornecedores se instalam em busca de mercado e de financiamento barato do BNDES, fundamental para se chegar aos baixos preços negociados. A exigência de 60% de conteúdo nacional como contrapartida para os empréstimos tem atraído tanto quem faz as turbinas como o restante da cadeia de suprimentos eólicos, que movimentará R$ 1 bilhão em 2011, segundo projeção da Abeeólica.

Ao longo do ano, a quantidade de fabricantes de turbinas passou de dois (Wobben Windpower e Impsa) para seis, com a chegada de Gamesa, Alstom, WEG e GE. A capacidade de produção passou de 1.100 MW para 2.800 MW anuais. Isso ainda faz do país um polo exportador para a América Latina.


Consolidação - Entre os empreendedores, a competição maior está levando a um movimento de consolidação, com empresas buscando ganhos de escala e maior porte para realizar investimentos, assumir riscos e gerenciar projetos. O grupo CPFL saiu na frente ao comprar a Jantus e formar uma joint venture com a Ersa em abril – a CPFL Renováveis, com portfólio de 3 GW (eólica, biomassa e PCH). Cemig e Light responderam em julho, ao assumirem o controle da Renova Energia, com portfólio de 4,4 GW de projetos renováveis (eólicas e PCHs).

Hoje os dois são as maiores potências privadas do setor eólico. Ficam ao lado das estatais do Grupo Eletrobras, como a Eletrosul, que tem registrado bons desempenhos nos leilões. No A-3 de agosto a empresa levou metade dos projetos, negociando 492 MW eólicos.

Começou um processo de consolidação no setor. A própria fusão (com a Ersa) foi um movimento de consolidação. Ainda existem boas oportunidades de fusões e aquisições”, diz Marcelo Souza, diretor Financeiro e de RI da CPFL Renováveis.

A forte concorrência também está levando as companhias a se voltar para o mercado livre, como forma de ampliar a demanda e melhorar as taxas de retorno. A primeira usina destinada a esse ambiente começou a operar em dezembro. Miassaba II (14,4 MW), da Bioenergy, abriu o caminho no mercado que deve responder por uma parte cada vez maior da expansão da fonte nos próximos anos. Até o fim do ano, já haviam sido anunciados pouco mais de 1 GW em projetos para o mercado livre até 2014. Mais uma marca que pode ser alcançada pelo setor.

A evolução eólica no Brasil no último ano

Março - WEG anuncia joint venture com espanhola MTOI e começa a fabricar turbinas no Brasil, em Jaraguá do Sul (SC)

Abril -  Brasil atinge seu primeiro gigawatt de capacidade instalada
CPFL compra Jantus e cria joint venture com Ersa, a CPFL Renováveis

Junho -  A primeira usina fora do Proinfa entra em operação: Cerro Chato (90 MW)

Julho - Gamesa inaugura fábrica de aerogeradores na Bahia
Cemig e Light assumem o controle da Renova Energia

Agosto - Energia eólica mais barata do mundo nos leilões A-3 e de reserva: R$ 99,56/MWh. O custo da energia eólica ficou abaixo do das térmicas a gás natural e hidrelétricas
Contratação de 1.929 MW nos leilões

Setembro - GE fabrica seus primeiros aerogeradores no Brasil, em Campinas (SP)

Novembro - • Alstom inaugura fábrica de turbinas eólicas na Bahia

Dezembro - Entra em operação Miassaba II (14,4 MW), a primeira eólica voltada para o mercado livre
O leilão A-5 contrata 976,5 MW eólicos. Com isso, a contratação da fonte fecha o ano em 2905,5 MW (Revista Brasil Energia)


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