quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Analistas veem cunho político e criticam negócios da Eletrobras com Celg e CEA


Depois de começar negociações para assumir 51% da goiana Celg Distribuição, a Eletrobras deve partir em breve para um acordo com a Companhia de Eletricidade do Amapá (CEA), na qual poderia ter uma fatia de até 85%. A empresa de Goiás soma uma dívida de R$6,8 bilhões e está em um processo de reestruturação, assim como a companhia do Amapá, na qual os débitos são de R$1,6 bilhão.


Caso confirmadas, as transações tornarão ainda maior o braço de distribuição de energia da Eletrobras, que hoje acumula prejuízos. Entre janeiro e setembro do ano passado, as concessionárias da estatal, que atuam em Amazonas, Alagoas, Piauí, Rondônia e Roraima, somaram perdas de R$836 milhões, com alta de 110% frente ao ano anterior.

Para o consultor da Ativa Corretora, Ricardo Correa, a empresa não tem um histórico perfeito para controlar distribuidoras, já que falta eficacia nas ações. “A Eletrobras vai continuar assim, porque o controle dessa estatal é deficitário. Fica claro que tudo é motivação política e quem acaba pagando são sempre os acionistas minoritários e os consumidores”.

O analista ainda afirma que "a estratégia de universalizar não demonstra compromisso de valor com qualidade, só demonstra a ineficiência e isso vai se intensificar neste governo”. Correa diz que a estatal é gerenciada por questões de Estado - em prejuízo dos investidores. “Órgão regulador de mercado, no caso a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tem que cobrar. A estatal não paga os dividendos obrigatórios aos acionistas e as ações são as mais baratas do mercado”.

As afirmações do próprio governo, que tinha a pretensão de transformar a estatal de energia num player importante como a Petrobras, são alfinetadas por Correa. “Se existe o compromisso de se transformar o grupo numa Petrobras do setor elétrico, será preciso melhorar a qualidade da gestão, buscar mais eficiência e alinhar a questão com os acionistas", diz. E ainda sobra para a petroleira, também criticada. "Na verdade, a Petrobras está se convertendo para ser mais uma Eletrobras”, ironiza o analista.

Já para o consultor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBE), Abel Holtz, Celg e CEA têm uma área muito extensa, mas pouco povoada. Para que a energia chegue até essas localidades, são necessários grandes investimentos, sem expectativas de receitas.“Podemos estender isso para as distribuidoras do Grupo Rede, onde essas características se repetem. Existem estados com consumidores de baixa renda, como no caso de Alagoas, em que o governo toma a concessão de uma empresa com problemas financeiros, organiza e acaba devolvendo ao Estado. É bem isso que ocorreu com a Celg e vai ocorrer com a CEA”, explica.

Em contraste com esse cenário, o consultor cita o caso da região metropolitana de São Paulo, onde a Eletropaulo tem sido atacada para investir e resolver as falhas no fornecimento de energia elétrica em vários pontos da cidade. Holtz diz que, enquanto o governo estadual pressiona, a União encara com algum conforto a aquisição de empresas problemáticas pela Eletrobras. "O governo federal vê esse movimento como uma saída para não ter que relicitar. É neste ponto que entram os aspectos políticos e o receio da pressão dos opositores às decisões do governo”, avalia.

O consultor do CBIE também lembra que, devido à inadimplência da empresa do Amapá junto ao setor, as tarifas estão congeladas há anos. “As empresas têm uma certa dificuldade de investimentos e, no caso da CEA, que está inadimplente. Tem também um problema político e a tarifa de energia elétrica é irreal. Como o governo sabe que nenhuma empresa privada tem interesse na distribuidora, ele não tem outra saída e o jeito é passar a responsabilidade para a Eletrobras”, completa.

O processo pelo qual a Eletrobras passará a ser majoritária na Celg também é apontado por ele como "uma questão política”. Holz ainda diz acreditar que a estatal pode dar novos passos no sentido de comprar outras empresas em dificuldades, como a Celtins, da holding Rede Energia, que controla uma série de distribuidoras no País.

A reportagem tentou contato com a Eletrobras para abordar a situação e os novos investimentos em distribuilão do grupo, mas não obteve retorno até o momento. (Jornal  da Energia)


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