A diferença de investimentos que separa o maior empreendimento da EDP de geração hidroelétrica na Amazônia do maior projeto elétrico existente naquela região, que é Belo Monte, é abismal. Enquanto a usina que será construída pela Energias do Brasil (EDP), no rio Jarí, está orçada em R$ 1,4 bilhão para uma capacidade instalada de 373 megawatts (MW) a controversa megausina tem o custo estimado em R$ 25 bilhões para 11,233 mil MW, a maior totalmente nacional.
Apesar da diferença que as coloca em patamares opostos, a história das duas usinas se parece e expõe a dificuldade de licitar hidroelétricas no meio da maior floresta tropical do mundo. Ambas ultrapassaram os 30 anos desde a concepção de projetos, a realização dos estudos de viabilidade e as primeiras movimentações de terra para o início das obras. Porém, é nessa região que o Brasil espera manter sua matriz energética baseada na geração de energia limpa.
A usina de Santo Antônio do Jari, que ficará a poucos quilômetros do Projeto Jari em termos de distância amazônica, foi idealizada ainda na década de 60, pelo então proprietário da fábrica de celulose que estava chegando àquela região desconhecida do Brasil. Hoje, a concessionária EDP estima que a obra esteja em 6% de sua totalidade concluída. Porém, para chegar até este momento, houve diversos capítulos que passavam desde a falta de um plano desenvolvimento da infraestrutura para o Amapá até a ampliação do prazo de concessão para que o maior projeto em execução naquele estado atraísse investidores, lembra o presidente do Congresso Nacional, José Sarney (PMDB - AP).
E com Belo Monte não foi diferente, o megaprojeto ainda passa por pressões de todos os lados da sociedade para que não saia do papel, mas com contrato de concessão assinado e obras em adanamento, dificilmente a hidroelétrica considerada estruturante para o sistema elétrico não sairá do papel.
Apesar de a capacidade instalada representar apenas uma pequena parte quando comparada a usina do Xingu, Santo Antônio do Jari representa um marco para a EDP. De acordo com seu presidente, António Pita de Abreu, quando concluída, a empresa terá cinco vezes mais capacidade instalada do que cinco anos atrás. Segundo o executivo, o investimento foi concebido para respeitar o meio ambiente e a comunidade, mas, sem deixar de lado a perspectiva de crescimento da empresa.
A perspectiva é de que mais de 70% dos 1,4 mil trabalhadores que construirão a hidroelétrica sejam contratados na cidade de LAranjal do Jari, a maioria para trabalhar na área de construção civil. Os 30% restantes serão enviados de outras regiões em decorrência da necessidade de pessoas especializadas na atividade que envolve a montagem eletromecânica e de equipamentos de maior valor agregado.
Eldorado da hidroeletricidade - Mesmo com os protestos de cineastas do exterior e outras celebridades, investimentos na Amazônia no segmento de geração de energia é uma situação que será cada vez mais comum nos próximos anos. Isso porque a Região da Amazônia Legal no Brasil é o último grande reduto de potencial hídrico disponível. Após a experiência das usinas do Madeira - Jirau e Santo Antônio -, e das hidroelétricas de Teles Pires, ainda existem outros 18,5 mil MW em capacidade que estão no escopo de trabalho da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no horizonte de 10 anos.
No total, de acordo com a EPE - responsável pelo planejamento do setor energético no País e pela elaboração do Plano Decenal de Energia (PDE) - em 2020 a Região Norte representará 85% da expansão em termos de potência instalada utilizando usinas movidas pela força dos rios brasileiros. Além de possuir o maior número de usinas, estas serão as de maior capacidade, que não raramente ultrapassam 1 mil MW de potência.
Se colocados em prática, todos esses empreendimentos serão responsáveis por elevar a participação daquela porção do Brasil de 10% da capacidade do Sistema Interligado Nacional (SIN) para 23% do total em apenas 9 anos, uma expansão de 28,2 GW (considerando os empreendimentos já licitados e os que estão em projetos), o equivalente a duas vezes o tamanho da usina de Itaipu que responde por 20% do consumo de energia nacional.
Além disso, concentrará, praticamente, a metade da expansão de capacidade de geração projetada para o País nesse período. A estimativa da EPE é que no horizonte decenal o Brasil tenha uma expansão de 61,5 GW um acréscimo de 56% na oferta de eletricidade. Em 10 anos, alcançará 171,1 GW de potência instalada ante as 109,6GW existentes em dezembro de 2010.
Nessa conta já estão incluídas as usinas que entrarão em operação até 2016 e já contratadas por meio de leilões. A Região Norte concentra 10 empreendimentos que somam quase 22GW de capacidade instalada, incluindo Belo Monte. Já para a segunda metade da década, o governo trabalha para viabilizar outras 11 usinas. De acordo com o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, após o leilão das usinas que não foram licitadas este ano por conta do licenciamento ambiental, São Manoel e Sinop, ambas no rio Teles Pires, as próximas deverão ser as duas usinas no rio Tapajós (6,1 mil MW), mas isso, para o segundo semestre de 2013. Além dessas estão previstos grandes empreendimentos hidroelétricos para os rios Jamanxim e Tocatins.
Conceitos - O governo tenta aplacar a ira dos ambientalistas contrários a hidroelétricas na Amazônia ao explicar que a expansão se dará por meio de usinas que utilizam o conceito fio d´água, ou seja, aquelas que aproveitam o fluxo do curso para movimentar as turbinas sem a formação de grandes reservatórios. Um dado que serve para ilustrar esse fenômeno está no aumento do "estoque" de energia que representa a formação de lagos como os das usinas no sudeste e sul do País, como Itaipu, Jupiá e Ilha Solteira, entre outras. Mesmo com o crescimento de 39% da matriz energética brasileira em termos de capacidade instalada em hidroelétricas, o Brasil verá a área inundada por lagos expandir apenas 6%.
Além disso, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, revelou a idea de que os próximos projetos de usinas na Amazônia adotassem o conceito plataforma, uma alusão às unidades de produção de petróleo da Petrobras em alto mar. No caso das usinas, um mar verde, reduzindo, desta forma, a área necessária de desmatamento para a implantação do empreendimento.
Independente da fórmula aplicada para minimizar o impacto na Amazônia, na semana passada o Ministério de MInas e Energia aprovou o PDE 2020. O documento é a referência para a expansão do sistema energético - não somento o elétrico - à sociedade e subsidia a elaboração dos programas de licitação. O PDE esteve em consulta pública até o final de agosto do ano passado.
A pasta, comandada por Lobão, determinou que a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético dê sequencia ao processo de aperfeiçoamento dos critérios, metodologias, e procedimentos referentes ao Plano Decenal, o que pode levar até mesmo a um aumento de capacidade instalada e à melhoria dos projetos quando comparados ao patamar atual. Além disso, o MME vai coordenar os estudos de planejamento energético setorial e traçará as diretrizes necessárias para que a EPE realize o plano. (DCI)
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