sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Novas regras do terceiro ciclo podem provocar falta de investimentos em modernização do sistema

O terceiro ciclo de revisão tarifária parece realmente não ter agradado muitos agentes do setor de elétrico brasileiro. O Jornal da Energia tem conversado com executivos das distribuidoras e com consultores que quase sempre apontam problema na taxa de remuneração e na retirada dos incentivos fiscais para as empresas do Norte e Nordeste. Com o presidente da Tempo Giusto, Eduardo Bernini, não foi diferente.

O executivo, que já foi presidente de grandes nomes do setor, como AES e EDP, apontou que a queda da taxa de remuneração para o capital investido pelas empresas, o chamado WACC, de 9,95% para 7,5%, pode gerar riscos e desestimular os investimentos em modernização nas redes de distribuição.

Em uma visão macro do quadro em questão, Bernini acredita que, tanto da parte dos formuladores de políticas públicas, quanto do regulador, está havendo uma subavaliação do conjunto de riscos inseridos dentro das regras para o segmento de distribuição.

“Seja pelo WACC, ou pela maneira que estão sendo reconhecidos os ativos que compõem a base regulatória, o sinal que esta sendo dado é: ‘esqueçam a qualidade, pois não vai haver investimento em modernização’”, explicou.

E esses investimentos seriam importantíssimos para o Brasil na atual conjuntura, com a aproximação de Copa do Mundo e Olimpíadas e o ritmo de crescimento econômico e transformação. Principalmente dentro de um cenário em que vivenciamos casos de bueiros estourando e de uma rede aérea que não dá mais conta da demanda.

“É latente que as redes aéreas e subterrâneas, que requerem hoje grande esforço de modernização, não vão encontrar um espaço adequado de solução para atender às demandas de qualidade e confiabilidade em determinadas regiões urbanas”, comentou o consultor.

Bernini também vê um novo cenário quanto à avaliação do consumidor sobre os serviços prestados. Segundo ele, a disposição do cliente de pagar por qualidade ainda não foi mensurada. ”A interrupção é vista como transtorno e não há uma associação entre o transtorno e o quanto ele paga. Ele sente esse impacto, mas não consegue fazer o vinculo entre o que ele paga e a qualidade que está recebendo e, principalmente, em quais caixinhas vão parar os recursos que ele está pagando”, completou.

O sócio diretor da Tempo Giusto ainda deixa um alerta em relação ao futuro das redes inteligentes no País e atual conjuntura do setor de distribuição. “Nós só teremos redes inteligentes no momento em que a remuneração que for oferecida aos investimentos de modernização forem compatíveis com os riscos que estão sendo assumidos. Esse ponto não ficou adequado nessa revisão tarifária”. (Jornal da Energia)

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