sexta-feira, 11 de novembro de 2011

CPFL diz estar pronta para terceiro ciclo

Apenas dois dias após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovar uma profunda mudança na forma de cálculo das tarifas das distribuidoras, que deverá reduzir o ganho das empresas e atrelar reajustes a qualidade do serviço, o presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira Jr., saiu na frente dos concorrentes e diz que a empresa continua vibrante e pronta para fazer a consolidação do setor de distribuição no Brasil. "Esse novo ciclo é pró-consolidação, pois o meio de cortar custos, para ter maior rentabilidade no negócio, é ter escala", diz Ferreira. "E algumas empresas não vão conseguir sobreviver. Vão perder dinheiro até quando? Vão prestar serviço ruim ao consumidor até quando?"

O forte posicionamento de Ferreira neste momento contrasta com as duras críticas que as empresas de distribuição fizeram durante todo o processo de discussão das novas regras. A Aneel chegou a amenizar parte da proposta, mas sua diretoria não cedeu as pressões e aprovou por unanimidade uma taxa de rentabilidade máxima de 7,5%. A própria CPFL esperava um retorno em torno de 8,6%. Ferreira ainda é um crítico da forma de cálculo usada pela Aneel, mas como neste ponto não há mais como contestar, o executivo adotou agora a postura otimista. "Teremos que nos reinventar, mas é nosso desafio a cada ciclo", diz Ferreira.

Os números de como as novas regras vão impactar a capacidade de geração de caixa da empresa, entretanto, não foram ainda sequer mostrados aos acionistas majoritários da companhia. Ferreira diz que as contas ainda estão sendo feitas, mas afirma que será forte o impacto no lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Ebtida, na sigla em inglês). Das distribuidoras da empresa, apenas a Piratininga tinha revisão prevista para esse ano. Cerca de 80% das empresas do grupo vão ser revisadas em 2013.

Caixa da CPFL chega a R$ 4 bilhões e lucro líquido cresce 8% no trimestre, ficando em R$ 379 milhões

A busca da rentabilidade para os acionistas terá de ser feita por meio de um forte programa de corte de custos e de eficiência, além de buscar os ganhos de escala com aquisição de outras distribuidoras. O órgão regulador estipula uma rentabilidade máxima para a distribuidora de energia em função do monopólio desta atividade em cada área de concessão. É o conhecido WACC regulatório. Cada empresa pode, entretanto, potencializar esse retorno.

No segundo ciclo de tarifas, O WACC era de 9,95%. De acordo com o presidente da CPFL, as distribuidoras do grupo conseguiam em média chegar a um retorno da atividade em torno de 14%. Isso é possível quando a empresa é eficiente e consegue ter um custo operacional menor do que o previsto pelo órgão regulador. O retorno ainda pode ser melhorado com redução de perdas de energia e inadimplência.

Se por um lado, as distribuidoras eficientes conseguem potencializar retornos, de outro as menos eficientes sequer conseguem obter o retorno permitido pela Aneel. É atrás dessas empresas que a CPFL está atrás.

Apesar das críticas que ainda direciona à forma como o cálculo do WACC foi feito, Ferreira admite que a Aneel foi razoável ao reduzir de 3,3% para 1,1% o fator de reajuste anual, baseado em qualidade. Esse percentual é descontado da inflação e portanto reduz a receita das empresas nos reajustes anuais de tarifas. Mas aquelas que tiverem qualidade poderão eliminar esse impacto. "É legítimo a agência não querer corroborar a ineficiência de algumas empresas", diz Ferreira. "Mas só o tempo dirá se as premissas da Aneel são corretas". Isso porque os investimentos de algumas empresas podem ficar prejudicado.

A tranquilidade da CPFL também reside no fato de hoje a empresa ser um grupo também focado em geração de energia, de onde obtém 30% de seu Ebtida. O caixa da empresa fechou o terceiro trimestre do ano em R$ 4 bilhões, mesmo depois de pagar R$ 750 milhões em dividendos no mês de setembro. A crise não assusta a companhia que já fez toda a rolagem de dívida que vence no próximo ano com o fechamento de um empréstimo de R$ 1,4 bilhão com juros de 100% do CDI. A receita líquida da empresa no trimestre foi de R$ 3,3 bilhões, com um crescimento de 6,2%. As vendas cresceram 4,2% e o otimismo também é baseado na pesquisa FIA, que mostra que 78% das pessoas têm intenção de ir às compras no próximo trimestre e a maioria para comprar produtos que vão consumir mais energia. É o maior percentual desde 2007. "A CPFL continua vibrante, captando recursos, crescendo em vendas e se preparando com seriedade para aumentar sua eficiência", disse Ferreira, cheio de otimismo. (Valor Econômico)


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