quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cai preço de energia para grande consumidor

O freio no crescimento da economia brasileira e as incertezas quanto à sua capacidade de aceleração em 2012 já se refletem nos preços da energia vendida a grandes consumidores. Contratos para fornecimento de eletricidade por cinco anos, que há menos de um ano eram negociados entre R$ 125 e R$ 130 por megawatt-hora, hoje são fechados no nível de R$ 110 por MWh.

Algumas comercializadoras de energia elétrica já trabalham com o preço de R$ 100 ou muito perto disso. O mercado também aguarda uma sinalização mais clara do nível de atividade da economia em 2012. "Nos últimos meses, os consumidores livres têm adiado o fechamento de novos contratos", relata Sérgio Marques, presidente da Bioenergy, empresa geradora de energia que já tem 30 megawatts (MW) de usinas eólicas em operação e uma carteira de projetos que deverá atingir 1.100 MW em 2015.

Marques se refere aos grandes consumidores de energia, como indústrias e comércio de maior porte, que saíram da esfera das distribuidoras de suas áreas de atuação e tornaram-se clientes do chamado mercado livre. Para consumidores residenciais e empresariais de menor porte, que se mantêm no mercado cativo das distribuidoras, nada mudou.

Segundo diversas comercializadoras de energia, que participaram do 3º Encontro Anual do Mercado Livre, realizado no fim de semana, na Bahia, em um ambiente de queda de preços e dúvidas quanto ao ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos, esses consumidores têm demonstrado receio de fechar negócios com prazos mais longos e preferido contratos curtos, com poucos meses de duração. Muitos adotam até a estratégia de se expor - pelo menos parcialmente - ao mercado "spot", no qual o valor do megawatt-hora muda todas as semanas e está sujeito às variações hidrológicas.

"Quando o preço cai e a incerteza aumenta, eles ficam mais agressivos para tomar riscos", diz Paulo César Coelho Tavares, sócio-diretor da Sol Energias. "De umas semanas para cá, justamente numa época do ano em que muitos grandes consumidores negociam contratos para o ano seguinte, o telefone parou de tocar", acrescenta, pedindo anonimato, o principal executivo de uma comercializadora de um banco de investimentos.

Na tentativa de fidelizar os clientes, mesmo em um cenário tão nebuloso, comercializadoras lançaram novas modalidades de contratos de fornecimento. Uma delas deixa o preço do MWh sem reajuste até 2014 - a maioria dos contratos é corrigida anualmente pelo IGP-M ou pelo IPCA. Outros contratos, como os oferecidos à indústria de alumínio, atrelam o valor da energia à cotação internacional do produto durante seu período de vigência. "Em qualquer momento, esse tipo de contrato dá flexibilidade às empresas, ainda mais em tempos de crise", diz Walter Fróes, presidente da CMU Comercializadora de Energia.

Para a quarta semana de novembro, o megawatt-hora no mercado à vista está cotado em R$ 45,45 - menos da metade do que se pagava em igual período do ano passado. Por isso, muitos consumidores livres que normalmente se blindam com contratos de um a cinco anos preferem comprar energia no "spot", pois ainda não têm uma estimativa precisa de produção nos próximos anos. Contratos inferiores a um ano também têm sido bastante negociados porque aumentaram as expectativas de "sobra" de energia no médio prazo, mantendo os preços baixos. Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) prevê folga de até 7,8 mil MW médios em 2015, com crescimento do PIB pouco acima de 3,5% ao ano.

Apesar de todo o risco associado à estratégia de exposição ao mercado "spot" ou a contratos de curto prazo, já que os grandes consumidores ficam expostos a um súbito aumento de preços e à dificuldade de encontrar eletricidade disponível, pesa a favor o fato de que a regulamentação atual proíbe a venda de excedentes de energia nos contratos do mercado livre. Ou seja, se o consumidor compra mais energia do que efetivamente consome, ele "mica" com o insumo.

As dúvidas falam mais alto, porém. Conforme lembrou um executivo da indústria petroquímica, há cerca de seis meses as projeções ainda eram de crescimento da economia de 4% em 2011 e de 5% em 2012. Hoje, lembra a fonte, as estimativas foram reduzidas: são de 3% em 2011 e algo parecido com isso em 2012, além de indefinições no cenário internacional para os anos seguintes.


O presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), Paulo Pedrosa, pondera que a exposição ao risco tem sido maior entre indústrias médias e no comércio (como shopping centers e hipermercados), que podem flertar com contratos de três a 12 meses. Segundo ele, empresas de grande porte precisam ter "garantia absoluta" de fornecimento por um prazo maior. "Além disso, elas têm regras de governança corporativa mais fortes, que as induzem a fechar contratos de longo prazo."

Pedrosa explica: muitas multinacionais têm dificuldades em lançar em seus balanços a compra de energia no mercado à vista. Mesmo estando circunstancialmente mais barato, o preço do megawatt-hora no "spot" é excessivamente vulnerável. Como pode elevar de uma hora para outra os custos das empresas, as auditorias internacionais resistem a reconhecer esse preço nos balancetes e preferem contabilizar o valor máximo da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) - R$ 689,18 por MWh. "Até porque ninguém sabe por quanto tempo os preços vão ficar baixos", observa Pedrosa.

Para as grandes empresas de geração de energia, os efeitos não são menores. O diretor de planejamento e controle da Tractebel Energia, Marco Antônio Amaral Sureck, nota uma diferença em relação ao que tem ocorrido desde o fim de 2007. A partir do leilão das usinas hidrelétricas do rio Madeira, o governo passou a permitiu que a concessionária vencedora das licitações negociasse até 30% da energia produzida no mercado livre.

A Suez Energy (controladora da Tractebel), por exemplo, vendeu energia aos consumidores livres por cerca de R$ 140/MWh. Às distribuidoras, cujo preço é regulado pelo governo, o valor dos 70% restantes da energia foi de R$ 71,40 - numa espécie de subsídio cruzado. "Hoje, dificilmente quem colocar energia a mais de R$ 115 vai vender", calcula Sureck. Por isso, ele não duvida de um cenário em que as geradoras prefiram negociar tudo o que puderem no mercado cativo, o das distribuidoras. O risco é que, sem o mercado livre aquecido, isso pressione para cima os preços da energia hídrica do mercado regulado, no leilão A-5 (com entrega da energia para depois de cinco anos) marcado para dezembro. (Valor Econômico)

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