sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Lobão e Tolmasquim divergem sobre usinas nucleares

O governo bateu cabeça ontem em relação aos planos de construção de usinas nucleares no Brasil. Enquanto o ministro de Minas e Energia, Édison Lobão, afirmou que será decidido em 2012 o local de construção de quatro novas unidades desse tipo de energia, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Mauricio Tolmasquim, disse que os planos sobre o assunto estão em avaliação, apesar de não estarem descartados.

Em evento no Rio de Janeiro, Lobão negou que o acidente com a usina japonesa de Fukushima, ocorrido no começo do ano, tenha mudado os planos do governo. "O Brasil mantém a sua política de expansão da energia nuclear. Temos projeto para mais quatro usinas a curto prazo e a possibilidade de instalação de outras em todo o país." No começo do ano, o governo sinalizou com a possibilidade de construção de duas usinas no Nordeste e duas no Sudeste.

De acordo com ele, estudos realizados pela Eletronuclear e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), encomendados pelo ministério após o desastre no Japão, asseguraram que não há perigo de um acidente nuclear no Brasil. Lobão explicou que o modelo de usina construído no Brasil é diferente de Fukushima e que gera "segurança absoluta".

Apesar de o acidente ter provocado preocupações internacionais com segurança em usinas nucleares, o ministro alega que o ocorrido no Japão "não foi um problema da usina nuclear, foi um problema de um tsunami e de um terremoto".

Em São Paulo, em coletiva, Tolmasquim disse que o acidente no Japão e o excedente de energia da matriz elétrica brasileira permitem ao governo deixar em segundo plano a construção de novas usinas nucleares até 2030. "Não estou dizendo que elas estão descartadas, mas os planos estão em suspensão. Estamos aguardando para tomar uma decisão e, como temos muitas opções de matrizes, não temos pressa." Preocupado com a repercussão que a palavra suspensão poderia causar, Tolmasquim frisou à reportagem que o plano apenas está sendo revisto, e que o país não deve se fechar ao desenvolvimento da geração de energia nuclear.

Tanto Lobão quanto Tolmasquim garantem, porém, que a usina de Angra 3, que está em construção pela Eletronuclear, será concluída.

Segundo o presidente da EPE, o Brasil vai ter até 6 mil MW médios de energia elétrica excedente em 2013 e 2014. A sobra da capacidade de geração de energia em relação ao consumo do país também deu ao governo federal mais tranquilidade para resolver o problema dos atrasos das usinas termelétricas do grupo Bertin, de acordo com Tolmasquim.

Segundo ele, o governo ainda está avaliando se é possível dar mais tempo à empresa ou se será o caso de cassar a concessão. "A sobra de energia hoje é maior do que essas usinas, por isso o atraso não afeta nosso abastecimento."

Ralf Terra, vice-presidente da Abdib, entidade das empresas de infraestrutura, concorda que o momento é de tranquilidade no setor elétrico. "Há pouco tempo vivíamos um momento de incertezas. Hoje temos resultados significativos e um planejamento importante no setor", diz. Ele afirma, porém, que ainda há gargalos a serem vencidos para dar mais agilidade aos investimentos, como entraves na área ambiental e a falta de mão de obra especializada. (Valor Econômico)


Leia também:
* Projeto destina recursos da RGR aos municípios
* Pinga-Fogo Setor Elétrico: MME, EPE e IBAMA
* Especialista sugere novo destino para concessões do setor elétrico
* Comissão aprova proibição de repasse de custo com medidor de energia
* OAB vai sugerir ação contra a Aneel por valores cobrados a mais nas contas de luz