Para ex-presidente da Eletropaulo, serviço vai continuar a piorar, com interrupções por sobrecarga. Eduardo Bernini sugere exploração de subsolo, por concessão, mas diz que elétrica e gás não podem dividir espaço. O economista Eduardo José Bernini, 54, já presidiu por duas vezes a maior distribuidora de energia do país, a Eletropaulo.
Hoje, à frente da consultoria Tempo Giusto, ele afirma que a rede elétrica aérea está "no limite", e a subterrânea, "um caos".
Na primeira vez na Eletropaulo, de 1996 a 1998, Bernini preparou a companhia para a privatização.
Na segunda, de 2003 a 2007, costurou o acordo junto com o BNDES de formação da Brasiliana, holding que agrega o banco e o grupo americano AES.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Folha - A qualidade do serviço de energia elétrica está caindo?
Eduardo José Bernini - Estamos percebendo uma degradação da qualidade do serviço prestado. Estão ocorrendo mais interrupções e elas são mais percebidas do que eram no passado. Essa situação vem se agravando.
As redes estão sobrecarregadas?
Elas têm uma limitação física. Apesar de os equipamentos serem mais eficientes, a quantidade de aparelhos que incorporamos ao nosso dia a dia está fazendo com que a densidade do uso de energia elétrica por unidade consumidora seja muito maior. Não só nos momentos de pico mas ao longo do dia.
O sistema está trabalhando no limite em quase tempo integral?
Sim, e não podemos desconsiderar que a rede aérea é mais vulnerável do ponto de vista de interferências ocasionais, desde a batida de um carro desgovernado até raios, chuvas, ventos e tudo o mais. Nos deparamos também com problemas graves nas redes subterrâneas, como a explosão de bueiros...
A conversão da rede aérea em rede subterrânea é a solução. Mas tem coisas que não se misturam. Por exemplo: gás não pode passar perto de energia elétrica. Rede de saneamento também não pode passar perto de rede elétrica, já que a decomposição de matéria orgânica emite gás metano, de alta combustão.
Qual seria a solução?
Defendo a rede subterrânea. O problema é que o subsolo é o caos. Ele foi ocupado de forma desordenada. Não existe uma política pública.
Mas o que poderia ser feito?
O ideal é que se tenha galerias onde cada uma das empresas ocupe determinada faixa, e o nível de interferência mútua entre elas seja o mínimo possível. Talvez um modelo de exploração dessas galerias mediante concessão seja a solução. Novas redes seriam construídas para a passagem, com ocupação das diferentes utilidades, e se teria uma regulamentação.
O que acontece hoje é que cada um abre a sua vala e torce para não encontrar no meio do caminho uma outra já feita por uma companhia de gás ou água e saneamento.
E as redes aéreas? São obsoletas?
Não dá pra colocar mais postes e mais circuitos nas instalações existentes. A grande preocupação da última década foi garantir a expansão da oferta. Depois do racionamento, muitas políticas foram feitas para geração e transmissão de energia. Já na distribuição, mais direta com o consumidor, a ordem foi: vai tocando. Mas chegamos ao limite. Precisamos de uma política mais ousada para que a qualidade do fornecimento seja repensada. (Folha de S. Paulo)
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