segunda-feira, 20 de junho de 2011

Novas usinas deixam sistema vulnerável

A construção de mega hidrelétricas, como Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, elevará a potência instalada do Brasil, mas não vai alterar a capacidade de armazenamento de água no sistema. Para reduzir os impactos ambientais, as novas usinas estão sendo construídas a fio d’água, sem reservatórios. Na prática, isso significa ter um sistema mais vulnerável às condições climáticas e mais complexo do ponto de vista de operação.
É o que mostra o estudo Energia e Competitividade na Era do Baixo Carbono, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). De acordo com o trabalho, a capacidade do sistema hidrelétrico de estocar água no período úmido para suportar o período seco cairá dez pontos porcentuais até o fim da década, de 41% para 31%.
Segundo a CNI, no passado, os reservatórios conseguiam aguentar até dois anos com períodos secos mais severos. Hoje, esse tempo está na casa de um ano, e tende a piorar com as usinas em construção e o aumento do consumo interno. Até 2007, a relação entre o tamanho dos reservatórios e a potência das hidrelétricas era de 0,51 quilômetros quadrados (km²) por megawatt (MW). Nas novas usinas, esse número é de 0,06 km²/MW.
"Sem reservatórios, não aproveitamos todo o potencial hídrico do País. Só aproveitamos as quedas d’água. Quem vai pagar é a sociedade", avalia o vice-presidente da CNI, José de Freitas Mascarenhas. Ele destaca o caso de Belo Monte, que terá capacidade de 11.233 MW, mas vai gerar 4.571 MW médios. No período chuvoso, a usina produzirá na capacidade máxima. Mas, na seca, a produção poderá cair para meros 690 MW médios por causa da falta de reservatório.
A usina vai gerar conforme o regime hidrológico da região. Para se ter ideia, a quantidade de água no mês mais úmido do Rio Xingu é 25 vezes maior do que no mês mais seco, segundo a CNI.
A solução para contornar o problema, que foi criado para resolver outro problema (dos impactos ambientais), é diversificar as fontes de energia, avalia o professor da UFRJ, Nivalde Castro. Hoje, 75% da matriz brasileira é hídrica e 15%, térmica. O restante vem de usinas eólicas, nucleares, de biomassa e de pequenas centrais hidrelétricas (PCH). Para Castro, o Brasil não pode renunciar às hidrelétricas, mesmo que elas sejam construídas sem reservatórios.
Ele acredita que o caminho do governo de apostar na energia eólica e bioeletricidade para complementar o sistema é positivo. No Nordeste, onde está o maior número de projetos eólicos, o período seco coincide com o maior volume de ventos. Já no Sudeste, a safra de cana ocorre no período de estiagem, que reduz o nível dos reservatórios. Essa lógica está traduzida no Plano Decenal 2011/2020. No planejamento, as fontes alternativas vão alcançar 16% da matriz até o fim da década. Mas há quem discorde. Afinal, essas fontes também dependem de condições climáticas. (O Estado de S. Paulo)

Leia também:
* Pinga-Fogo Setor Elétrico: Aneel, Furna e Eletrobras
* Agência de energia alega falta de fiscais
* Belo Monte vai mudar operação do sistema elétrico
* Tarifa entra em discussão sobre fim de concessões