terça-feira, 24 de maio de 2011

Eletrobras muda critérios para se associar em leilões

A nova administração da poderosa estatal federal de energia elétrica quer dar uma guinada na forma de condução de seus negócios, a começar pelos critérios que vão definir futuras parcerias em diferentes leilões. O presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, que assumiu o comando da empresa há cerca de três meses, diz que as premissas de associação serão mais objetivas e que os retornos dos investimentos precisam ser privilegiados para alterar a rentabilidade da companhia, hoje em torno de 3% sobre seu patrimônio e com meta de chegar a 10%.

Se engana quem pensa que essa nova conduta está em um tempo futuro e que vai se limitar a definição de pequenas parcerias. No fim de março, os novos critérios foram decisivos para que a estatal desistisse, às vésperas do leilão de energia no Peru, de participar da disputa com uma tradicional parceira, a Odebrecht. Carvalho Neto explica que a decisão foi tomada porque a Eletrobras avaliou que poderia não obter retorno suficiente para cobrir seu custo de capital. "Acreditamos que a Odebrecht foi otimista demais na previsão que fez de venda da energia no mercado à vista", disse o presidente da Eletrobras.

A estatal vive sob forte pressão depois que, nos últimos anos, entrou em diversas hidrelétricas, que estão em fase de construção, e que podem ter seus retornos comprometidos. A empresa é sócia da GDF Suez em Jirau, que está em negociação para o pagamento de um adicional de construção de mais de R$ 1 bilhão que vai elevar o investimento a R$ 13 bilhões. Além disso, a usina não vai entrar em operação com a antecipação prevista.

Em Belo Monte, onde a Eletrobras e suas controladas tem quase 50% do empreendimento, já se passou mais de um ano desde o leilão e a licença ambiental para início das obras ainda está pendente. A usina de Teles Pires, em que a controlada Furnas foi vitoriosa em sociedade com a Neoenergia, a tarifa que entrou para a história como a mais baixa em todos os leilões já realizados, de R$ 58,36, ainda está para mostrar que é capaz de remunerar os investimentos.

Na usina hidrelétrica de Chaglla, onde a Eletrobras não quis aportar seus investimentos, a Odebrecht garante que os retornos serão na casa dos dois dígitos acima do dólar. A empresa vai investir cerca de US$ 1 bilhão para construir a hidrelétrica que terá pouco mais de 400 MW de capacidade. No leilão, a empresa vendeu 284 MW, por quinze anos, que serão remunerados a US$ 46 o MWh. Mas no Peru, o mercado de energia difere do brasileiro. A potência da usina, por exemplo, também é remunerada e no caso de Chaglla o preço a ser considerado na receita é de US$ 55,52 o MWh. O vice-presidente financeiro da Odebrecht Energia, Marco Rabello, lembra ainda que a concessão, diferente do Brasil, é perpétua.

A Odebrecht Energia manteve a participação no leilão, mesmo sem a Eletrobras. A empresa já tinha a concessão e portanto a obrigação de construir a usina. De qualquer forma, além de investidora, a Odebrecht vai usar sua subsidiária de construção no país para a obra. O presidente da Eletrobras garante que não via problema no fato de a mesma empresa ser investidora e construtora do empreendimento.

Mas em novos leilões, esse será um critério a ser avaliado. A Eletrobras está realizando chamada pública de potenciais sócios para o leilão de eólicas que acontece em julho e o presidente da estatal diz que aqueles que levarem projetos que tenham serviços contratados com os próprios sócios perdem pontos nos critérios de avaliação. A empresa vai exigir ainda governança em cada fase da execução do empreendimento e o retorno mínimo em função do custo de capital. Planos de negócios claros também terão que ser apresentados. (Valor Econômico)