O blecaute que deixou 46 milhões de pessoas sem luz em oito Estados do Nordeste, no início de fevereiro, foi provocado por erros cometidos pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). A conclusão é do órgão responsável pelo sistema elétrico brasileiro.
"O colapso total que ocorreu na área ilhada da Região Nordeste foi iniciado pelo desligamento automático indevido de cinco unidades geradoras da Usina de Xingó e de três unidades da Usina de Paulo Afonso IV", afirma o Operador Nacional do Sistema (ONS) no relatório sobre as causas do incidente.
No documento, obtido pelo Estado, o ONS faz várias críticas à atuação da Chesf. A empresa, que pertence ao Grupo Eletrobrás, rebateu os questionamentos em relatório anexado ao material. Todos os documentos foram enviados à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que dará a palavra final sobre as causas do incidente e determinará as possíveis penalidades. O mesmo ocorreu após o apagão de novembro de 2009, que deixou 18 Estados no escuro e resultou numa multa de R$ 43,4 milhões a Furnas, a maior já aplicada pelo órgão regulador a um agente do setor elétrico.
A conclusão do ONS está em sintonia com o que já vinha sendo defendido no governo e deve acelerar o processo de troca na direção da Chesf, atualmente presidida por Dilton da Conti Oliveira, indicado pelo PSB. No mês passado, o novo presidente da Eletrobrás, José da Costa Carvalho Neto, admitiu que as mudanças no comando da subsidiária estavam em análise.
"Transgressão". Em diversos trechos do relatório, o ONS considera que a Chesf errou ao liberar o uso de uma linha de transmissão entre as subestações de Luiz Gonzaga (PE) - onde o problema teve início - e Sobradinho (BA). No entender do Operador Nacional, a liberação dessa linha sem a devida identificação das "anomalias" nos sistemas de proteção deve ser considerada uma "transgressão dos procedimentos de segurança recomendados para esta situação".
A Chesf, entretanto, argumenta que a liberação da linha foi feita depois de o sistema que deu pane em Luiz Gonzaga ter sido isolado. Segundo a empresa, a ação seguiu "procedimento padrão" para situações desse tipo. "A disponibilização da linha foi correta visto que não existiam quaisquer indicações que caracterizassem impedimento da linha", defendeu a companhia.
Para a direção da Chesf, não haveria como identificar, "em tempo real", anomalias no sistema de proteção em nível "operacional". "Apenas uma equipe de manutenção poderia detectar a anormalidade. No nível operacional, a sinalização existente exigia apenas o impedimento do disjuntor, o que foi efetiva e corretamente realizado." Para o ONS, a liberação da linha só poderia ter sido feita depois de uma investigação minuciosa.
Caos. O apagão do Nordeste começou por volta de 0h30 de 4 de fevereiro. A interrupção no fornecimento de energia provocou caos em serviços públicos e hospitais, além de paralisar as atividades do principal polo petroquímico do País, na Bahia. Ex-ministra de Minas e Energia, a presidente Dilma Rousseff ficou extremamente irritada e cobrou providências imediatas para a identificação das causas e a adoção de medidas que pudessem evitar a repetição do problema.
Na quarta-feira, o diretor-presidente da Chesf foi questionado sobre as causas do apagão em audiência pública na Câmara dos Deputados, mas acabou repetindo explicações técnicas sobre as falhas do sistema de proteção. "Para ter uma visão correta e geral da questão é preciso olhar todos os parâmetros." ((O Estado de S.Paulo)
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