segunda-feira, 4 de abril de 2011

A ameaça de novos blecautes

Nos dois primeiros meses do ano, a capacidade de geração elétrica do Brasil evoluiu para 113 milhões de MW médios, correspondendo ao potencial de produção de todas as usinas hidroelétricas, térmicas e nucleares. Os leilões de energia nova realizados em 2010 trouxeram excelentes resultados. Ao todo foram comercializados 5.200 MW médios.

No período de 2010 a 2014, no cenário conservador, estima-se um crescimento de mais de 10% da capacidade instalada no País de usinas hidroelétricas. No que tange às térmicas, haverá aumento de 24% no mesmo período. Quanto às pequenas centrais hidroelétricas e às co-geradoras de bagaço da cana-de-açúcar, elas devem passar para mais de 3% e 7% em 2014, respectivamente. Para as usinas eólicas prevê-se o crescimento de mais de 1%, em 2014, no computo geral das instaladas.

Dos atuais 60 milhões de m³ médios diários de consumo de gás natural, perto de 13 milhões de m³ destinam-se à alimentação de térmicas, notadamente no Estado do Rio de Janeiro. A operação das térmicas visa a preservar os reservatórios de água das usinas hidroelétricas.

Itaipu continua batendo recordes de geração, tendo gerado 8.500 megawatts-hora em janeiro passado. Tais recordes refletem a excelente fase atual da economia brasileira e a disponibilidade da geradora, a fim de atender à crescente demanda.

A binacional elétrica possui 14.000 MW de potência instalada, sendo responsável de perto de 20% de toda a eletricidade consumida entre nós e, ainda, abastece 70% do consumo do Paraguai.

Há uma década o Brasil racionava o emprego da eletricidade, e hoje volta a enfrentar sérias dificuldades com o abastecimento regular. Não se trata mais da falta de eletricidade, eis que o parque gerador aumentou 53%, mas sim da qualidade e das constantes interrupções, apagões e blecautes em diversas localidades, ocasionando sensíveis prejuízos às indústrias, ao comércio, ao setor de serviços e aos usuários domésticos.

Perto de 14 grandes ocorrências já foram contabilizadas nos últimos meses, consoante o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), garantindo ao Brasil a condição de nação com o maior número de blecautes de grandes proporções.

Existem especialistas que atribuem os sucessivos cortes às chuvas torrenciais. No último triênio, o brasileiro ficou sem eletricidade vinte horas, em média. Na megalópole paulistana, recentemente alguns bairros ficaram às escuras por quatro horas. As justificativas não esclarecem os reais motivos dos apagões.

Outros analistas enfatizam que a etiologia da deficiência do abastecimento encontrar-se-ia na falta de investimentos financeiros na geração e transmissão, em face da imprescindibilidade da substituição de equipamentos obsoletos e ausência de manutenção.

Daí a assertiva de Mário Veiga, um dos mais conceituados consultores do setor elétrico brasileiro: os apagões atuais podem ser decorrentes de anos sem investimentos adequados.

À Agência Reguladora de Eletricidade (Aneel) compete a fiscalização do serviço público de distribuição, eis que trata-se de uma concessão do Estado.

Eletricidade abundante e barata é fundamental para assegurar o desenvolvimento econômico e aprimorar a nossa competitividade, em relação às outras nações, eis que ocupamos a deprimente 58ª posição, entre 139 países pesquisados, atrás do Azerbaijão. Diante do maior uso das térmicas movidas a diesel e óleo combustível, as tarifas elétricas devem ficar mais caras nos próximos anos, subindo 19% até 2015 para as indústrias.

Tramita na Câmara dos Deputados, há sete anos, projeto de lei que disciplina a atuação das agências.

Nas nações mais evoluídas, como é o caso dos EUA, as suas agências são adjetivadas como integrantes de um "quarto Poder", ao contrário do que sucede entre nós, onde elas são meros apêndices do Executivo. (DCI - Autor: Luiz Gonzaga Bertelli)


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