Após quase três horas, a cúpula do setor elétrico deixou o Palácio do Planalto sem fazer qualquer comentário sobre a reunião de emergência convocada pela presidente Dilma Rousseff. O encontro foi para discutir o apagão que atingiu oito Estados do Nordeste na semana passada.
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, saiu pela garagem e evitou o contato com os jornalistas. Enquanto isso, os presidentes da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Nelson Hubner, e da Chesf (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), Dilton da Conti, tiveram de encarar a saída principal do Palácio e estavam visivelmente abatidos.
Segundo fontes do governo, a reunião foi tensa, mas nenhuma decisão teria sido tomada. Questionado, no entanto, se houve alguma demissão, da Conti engoliu em seco e não chegou a completar a frase que se preparava para falar. Logo em seguida, emendou que a reunião com a presidente ainda não havia chegado ao fim.
- A reunião é permanente. Quem tem um sistema do tamanho do nosso não para de ter reunião. Agora vocês me desculpem, mas preciso trabalhar.
Além de Lobão, Hubner e da Conti, estavam reunidos com Dilma o presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética), Maurício Tolmasquim, e o diretor-presidente do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Hermes Chipp, além de representantes da Eletrobras.
A reunião, que não estava prevista na primeira versão da agenda de Dilma, foi convocada pouco antes do apagão que atingiu bairros de São Paulo na tarde de 8/2. De acordo com assessores da Presidência, a presidente não estava satisfeita com as explicações dadas por Lobão para o blecaute no Nordeste. O Ministério de Minas e Energia atribuiu o episódio a uma falha no cartão de proteção da subestação de Luiz Gonzaga, em Pernambuco.
O cartão é um equipamento eletrônico que atua na proteção das estações. Segundo o secretário-executivo da pasta, Márcio Zimmermann, o dispositivo teria emitido um falso sinal de falha no disjuntor, provocando o desligamento da estação que ocasionou um efeito dominó na rede que abastece a região.
A cúpula do setor elétrico, no entanto, não explicou o porquê da falha. Dilma achou a justificativa extremamente técnica e inadmissível, ainda mais após fato semelhante ter ocasionado o apagão de 2009, que deixou cerca de 40% do país às escuras.
À época, Dilma, que ainda se preparava para a campanha presidencial, chamou jornalistas para minimizar o fato e afirmar que o apagão, na verdade, havia sido um blecaute. Sinônimos à parte, já naquela época ela pediu providências para que os investimentos no setor garantissem que o sistema não fosse mais apagado em efeito dominó a partir de uma falha no circuito de uma usina, subestação ou até mesmo em alguma das linhas de transmissão.
Ainda de acordo com assessores, Dilma teria ficado extremamente incomodada com a postura de Lobão durante a coletiva que concedeu na sexta-feira (4), após o restabelecimento da energia no Nordeste. O ministro utilizou os mesmo argumentos do apagão de 2009, inclusive elogiando o sistema elétrico brasileiro.
- O nosso sistema funciona muito bem. Tem falhas, mas existem falhas em todos os sistemas do mundo. Nosso sistema é robusto e moderno. Não há no mundo sistema mais moderno que o brasileiro.
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