sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Carta assinada por funcionários de Furnas faz críticas à gestão da empresa

O deputado federal licenciado Jorge Bittar (PT) encaminhou ao ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, um documento com diversas críticas à diretoria da estatal Furnas, subsidiária da Eletrobras. Segundo a assessoria de imprensa do parlamentar, o texto foi encaminhado por empregados da companhia, que afirmam que a empresa "passa por uma das maiores crises de sua história" e revelam "temor" pelo futuro.

Os trabalhadores afirmam que a companhia está em "declínio contínuo" desde 2007, após a saída de José Pedro Rodrigues de sua presidência. A carta aponta uma forte influência política na empresa por parte do PMDB, que se manteria no comando de Furnas por meio de uma ala liderada pelo deputado Eduardo Cunha. Um ex-diretor, Dimas Toledo, também teria força sobre diretorias da estatal.

A participação dos políticos nas decisões da empresa teria levado ao "desrespeito às leis, estatutos e regulamentos que regem o mundo corporativo". As pesadas críticas falam em "contratações, renovações de contratos, não renovação de contratos, assinaturas de contrato, liberações de pagamentos e nomeações" feitas "frequentemente, e às claras, para atender ao interesse desse ou daquele grupo político". Os empregados afirmam que as negociações são facilmente registradas "nos corredores da empresa".

Em nota de esclarecimento, o deputado Eduardo Cunha afirma que há uma "campanha" contra seu nome "com motivações de natureza pessoal" e garante que jamais esteve na sede de Furnas e nem chegou a indicar pessoas pra a empresa. Ele lembra que participou da indicação política do presidente anterior de Furnas, Luiz Paulo Conde, mas que, posteriormente, o nome de Carlos Nadalutti foi "escolhido pelo governo dentre várias opções estudadas" - decisão que contou com apoio da bancada do PMDB.

Em nota à imprensa, Furnas chama a carta de "documento apócrifo, supostamente elaborado por engenheiros da empresa". Em resposta às ilações de influência política em seu comando, a companhia destaca que, "pela primeira vez nos 53 anos de existência da empresa", cinco dos seis integrantes de sua diretoria são "técnicos com larga experiência e trajetórias destacadas no setor elétrico" - sendo quatro deles funcionários de carreira.

A empresa lembra ainda que o seu atual presidente, Carlos Nadalutti Filho, é engenheiro e está na companhia há mais de 30 anos, tendo ingressado como estagiário e ocupado posteriormente posições técnicas e gerenciais. "A substituição de ocupantes de cargos gerenciais ocorre dentro da normalidade do universo corporativo e é restrita a empregados de Furnas", garante a estatal.

A carta encaminhada pelo deputado petista também atribui à diretoria de Furnas diversos prejuízos recentes. O texto afirma que as hidrelétricas de Simplício e Batalha, construídas pela empresa, "acumulam sobrepreços de 100% e atrasos de 9 meses em Simplício e 18 em Batalha", o que teria feito a companhia perder a rentabilidade dos projetos.

"Virou rotina a constituição de grupos de trabalho internos para justificar aditivos em contratos para pagamentos de gastos 'não previstos' nesses empreendimentos. Já houve, inclusive, pagamentos sem respaldo contratual, 'para a obra não parar'", afirma o documento.

Segundo Furnas, o aumento de custo em Simplício "deve-se a diferenças substanciais entre os parâmetros para elaboração do cronograma e orçamentos iniciais - realizados em gestão anterior, em 2005 - e aqueles efetivamente encontrados durante a construção do empreendimento".

A companhia afirma que, como houve mudanças no projeto ao longo de sua execução, aumentaram o cronograma e os custos da obra, mas lembra que as alterações foram submetidas à aprovação de instâncias internas. No caso da hidrelétrica de Batalha, Furnas afirma que o atraso se deve à "majoração de custo devido a questões geológicas não verificadas nos estudos ambientais e atraso na emissão do licenciamento ambiental".

Por fim, o texto atribuído a funcionários da estatal afirma que a atuação da diretoria de Furnas - "exceto a Diretoria de Operação", tem sido "desastrosa sobre o clima organizacional e os resultados econômicos e financeiros". Furnas responde lembrando que os balanços bimestrais de 2010 já publicados apontam lucros, sem qualquer indicativo de resultado negativo ao final do ano. A empresa também garante que sua última Pesquisa de Clima Organizacional "apontou índice de satistação de 70,7%, demonstrando que não há baixa auto-estima".

Uma fonte da estatal afirmou ao Jornal da Energia acreditar que as acusações feitas à diretoria da empresa têm vínculo com o momento de transição política e com a proximidade do final do mandato do presidente da companhia, Carlos Nadalutti Filho. O executivo, inclusive, em carta à imprensa, afirma que a situação está relacionada a "querelas políticas" e "pessoas motivadas por interesses inconfessáveis, que se escondem em documentos apócrifos". (Jornal Energia)

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