Até o fim deste ano o país deve contar com um desenho de política pública para o smart grid, a rede inteligente do setor elétrico, mas com capacidade para ampliar a infraestrutura de transmissão de dados. A questão é discutida em um grupo de trabalho criado no Ministério de Minas e Energia que trata das aplicações dessa nova rede, bem como de como ela será financiada.
O foco do smart grid é aliar a transmissão de dados à capilaridade das redes de energia elétrica. Mesmo no Brasil, esse potencial já existe no segmento de transmissão de energia – as longas redes que levam eletricidade das usinas até as cidades contam com cabos de fibras óticas, infraestrutura que inclusive é alugada às empresas de telecomunicações.
Falta definir, no entanto, como multiplicar essa capacidade dentro das cidades. Uma possibilidade é o uso da tecnologia PLC (do inglês Power Line Communications), que se vale do cabeamento existente. Mas a área técnica da Aneel, que acompanha o que se faz mundo a fora no campo do smart grid, acredita que o caminho mais interessante seria o uso de redes sem fio, via radiofrequência.
“O que a gente tem visto no mundo é que o PLC se aplica muito para áreas distantes, rurais. Mas em áreas urbanas talvez a rede mesh de radiofrequência, ou mesmo o GPRS para medição, é viável. Para a rede inteligente, para smart grid mesmo, o GPRS já não é tão confiável. Então estão partindo para redes mais robustas, de RF Mesh, que não podem falhar e têm que ser em tempo real”, explica o superintendente de Regulação e Distribuição da Aneel, Paulo Henrique Silvestre Lopes.
A questão que se impõe é como financiar essa nova infraestrutura. Atualmente, as fibras óticas do setor elétrico chegam até as subestações e a partir delas seriam instalados equipamentos de radiofrequência. “É uma rede mais cara, por isso a Aneel ainda não entrou nessa seara. Precisaria ter um financiamento que a viabilizasse para que o consumidor não tenha que pagar”, diz o superintendente da Aneel. Ele lembra que o relatório em elaboração no MME também tratará dos recursos.
Enquanto isso, a agência reguladora do setor elétrico trabalha no que pode ser considerado o primeiro passo em direção ao smart grid: a substituição dos atuais medidores de consumo por novos equipamentos, com capacidade para comunicação bidirecional. Espera que a proposta entre em consulta pública até o próximo mês e que as regras para a substituição, inicialmente de 45 milhões dos 65 milhões de “relógios” instalados nas residências, passem a valer no início de 2011.
A Aneel prefere não detalhar esse ponto, mas a capacidade de troca de dados entre as residências e a rede elétrica tem potencial para transformar os novos medidores em modems. “Não estamos desenhando com essa finalidade, mas depende da comunicação que está embarcada nele. A gente só diz que ele tem que ter comunicação, mas não define a tecnologia, vai ficar aberta para cada empresa definir a sua. Mas a partir do momento em que ele recebe informações, pode ser um modem”, explica Silvestre.
Longe de ser um tema de ficção, o uso das redes elétricas para a comunicação de dados já faz parte dos planos de negócios de algumas empresas do setor. “Hoje, com a evolução tecnológica, principalmente das telecomunicações, o smart grid é uma realidade e ela já está próxima do Brasil. É simplesmente definir um modelo econômico e técnico que viabilize essas redes”, completa o superintendente de Regulação e Distribuição da Aneel. (Convergência Digital)
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