quinta-feira, 22 de julho de 2010

Uso de térmicas encarece custo de energia

O consumo de energia do país acompanha a atividade industrial, com alta desde o início do ano. Mesmo assim, especialistas do setor tememnão um desequilíbrio entre oferta e demanda do insumo nos próximos anos, mas a tendência de disparada dos preços, no bojo de um já detectado encarecimento dos chamados encargos setoriais que incide sobre os preços da energia, mas também pela perspectiva de vencimento dos contratos de concessão das usinas já amortizadas, no país, entre 2013 e 2015.

De acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), entre janeiro e maio deste ano na comparação com o mesmo período do ano passado, o consumo de energia do país como um todo variou 9,7%, mas o da indústria, especficamente, foi ainda maior (13,6%). Em janeiro, foram demandados 33,7 mil gigawatts-hora (GWh) por todas as classes de consumidores — além do industrial, o residencial e o comercial.

No mesmo mês, o segmento industrial respondeu por 13,7 mil GWh do total. Em maio, enquanto o consumo no país foi de 34,6 mil GWh, a indústria ampliou o consumo para 15,4 mil GWh.“O preço da energia já começa a dar sinais de disparada no país, coma incidência de novos encargos como reflexo do acionamento de usinas térmicas emergenciais pelo governo”, avalia o presidente da Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abraceel), Paulo Pedrosa.

O encargo ao qual se refere o dirigente é o Encargos de Serviços do Sistema (ECC), que incide sobre todas as contas de luz sempre que acionadas as usinas termelétricas disponíveis pelo governo como uma espécie de back up do sistema. Em junho, o governo determinou o acionamento dessas usinas, fora da ordem de mérito, para poupar os reservatórios hídricos no período de menor incidência de chuvas.

Além dos encargos, o custo deverá ficar mais caro também pela perspectiva de vencimento das concessões das usinas hidrelétricas já amortizadas, entre 2013 e 2015. Pedrosa participou ontem, no Rio, do 2º Simpósio Nacional de Regulação, Economia e Mercados de Energia Elétrica (Sinrem). A especialista em Planejamento Comercial da Tractebel, Fabíola Sena, advertiu que cerca de 9 mil MW de carga vão ficar descontratados entre 2013 e 2015.

O número é maior ainda, de acordo com cálculos da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia Elétrica (Abrace). Diretor da entidade, Fernando Umbria estima em 18 mil MW, só em 2015, o total de carga descontratada com o vencimento das concessões.

Independentemente do volume envolvido, Fabíola alerta que a situação contribui para elevar a tendência de preços nos futuros leilões de energia previstos pelo governo neste ano. Com uma quantidade tão grande de energia descontratada para os próximos anos, deverá ocorrer uma pressão sobre o Preço de Liquidação de Diferença (PLD), o valor de referência do insumo calculado para operações de compra e venda no mercado livre de energia. “O pior cenário para a indústria, que é o que se avizinha, é de uma combinação de dois fatores: o vencimento das concessões de usinas, com o vencimento dos contratos de comercialização de energia firmados no leilão promovido em 2004 pelo governo”, acrescenta Umbria. “Ao todo, vão vencer 9 mil MW em 2013 e mais 6.800 MW, em 2014. Por isso, é preciso que seja dada uma solução imediata para as concessões das usinas.” (Brasil Econômico)