"A hidrelétrica de Manso deveria servir de exemplo para que Belo Monte não se constitua em mais um catatau da ambição desmedida do ter e ter mais"
As incongruências do projeto hidroelétrico de Manso, no Mato Grosso, servem de exemplo ilustrativo do que não deve ser aplicado no caso de Belo Monte, mega-hidrelétrica imaginada para o Rio Xingu no Pará. Com efeito, a aritmética simplérrima de custo-benefício não encoraja mais essa aventura tecnicista para a Amazônia Legal. Como outras tantas de triste memória, por seu resultado adverso ou arrematado fracasso. Sacrifício em vão – para nada! E que, de várias e variadas que foram, nem cabe enumerar.
Mas cabeça dura ou duríssimos interesses, em afronta ao bem comum ou em desafio ao bom senso, leva a mais esta polêmica, senão mesmo atentado à razão, assim como à sandice do “desenvolvimento” apressado e danoso! Desenvolvimento aspeado, ressalte-se, que atrasa e não adianta. E atropela – ao invés de beneficiar! Desenvolvimento às avessas, de custo impagável, imensurável e de pouco efeito, quando não somente a geração de passivos. Às vezes irreversíveis!
Quanto a Manso, sei do que falo pois pude acompanhar de muito perto. Uma obra dispendiosa e que quis justificar-se por seu multiuso, a saber: irrigação, navegação – pela regularização da vazão do rio; suprimento energético resolutivo, “racional” (???)...
Toda essa ideia foi à epoca desacreditada pelo respeitado hidrologista Domingos Iglesias Valério, em um relatório produzido por encomenda de sua universidade, a Federal de Mato Grosso. Entre outras conclusões, o professor mostrava que havia muito mais vantagem em se optar pela também projetada usina de Couto de Magalhães, a ser materializada com o represamento do Rio Araguaia, de maior corpo d`água e em trecho a isso propício.
Acrescente-se que o gigantismo de Manso, para água pouca, a tornaria de precária eficiência para seu elevado custo. E de duvidoso ou remoto multiuso, à hora tão propalado. Tudo mais virou história. E, consumatum est, “ipsis litteris”, aconteceu o que era previsto. Manso hoje é uma geratriz limitadíssima de energia, um imenso espelho d´agua suprimindo terras agricultáveis e criando problemas sociais na região. Virou mera área de lazer e contemplação para quem pode desfrutar do imenso lago.
Hoje, Belo Monte, no Vale do Xingu, é o empreendimento hidrelétrico grandioso que está em tela, ou melhor dizendo, em questão. O professor Iglesias já não mais vive entre nós e não podemos recorrer a seus préstimos técnico-científicos para instruir a decisão conveniente. Mas haverá certamente gente à altura da competência e da integridade do professor Iglesias. Para garantir que Belo Monte, mega-projeto hidrelétrico concebido (em pesadelo) para o Vale Xinguano, em pleno coração da Amazônia, não se constitua em mais um passivo desconsertante e desarrazoado. Mais um catatau da ambição desmedida do ter e ter mais – sem fim e nem princípios... (Tenho dito).
*João Vieira é professor-fundador da Universidade Federal de Mato Grosso (aposentado), onde lecionou Sociologia e dirigiu o Museu Rondon. (Congresso em Foco)
As incongruências do projeto hidroelétrico de Manso, no Mato Grosso, servem de exemplo ilustrativo do que não deve ser aplicado no caso de Belo Monte, mega-hidrelétrica imaginada para o Rio Xingu no Pará. Com efeito, a aritmética simplérrima de custo-benefício não encoraja mais essa aventura tecnicista para a Amazônia Legal. Como outras tantas de triste memória, por seu resultado adverso ou arrematado fracasso. Sacrifício em vão – para nada! E que, de várias e variadas que foram, nem cabe enumerar.
Mas cabeça dura ou duríssimos interesses, em afronta ao bem comum ou em desafio ao bom senso, leva a mais esta polêmica, senão mesmo atentado à razão, assim como à sandice do “desenvolvimento” apressado e danoso! Desenvolvimento aspeado, ressalte-se, que atrasa e não adianta. E atropela – ao invés de beneficiar! Desenvolvimento às avessas, de custo impagável, imensurável e de pouco efeito, quando não somente a geração de passivos. Às vezes irreversíveis!
Quanto a Manso, sei do que falo pois pude acompanhar de muito perto. Uma obra dispendiosa e que quis justificar-se por seu multiuso, a saber: irrigação, navegação – pela regularização da vazão do rio; suprimento energético resolutivo, “racional” (???)...
Toda essa ideia foi à epoca desacreditada pelo respeitado hidrologista Domingos Iglesias Valério, em um relatório produzido por encomenda de sua universidade, a Federal de Mato Grosso. Entre outras conclusões, o professor mostrava que havia muito mais vantagem em se optar pela também projetada usina de Couto de Magalhães, a ser materializada com o represamento do Rio Araguaia, de maior corpo d`água e em trecho a isso propício.
Acrescente-se que o gigantismo de Manso, para água pouca, a tornaria de precária eficiência para seu elevado custo. E de duvidoso ou remoto multiuso, à hora tão propalado. Tudo mais virou história. E, consumatum est, “ipsis litteris”, aconteceu o que era previsto. Manso hoje é uma geratriz limitadíssima de energia, um imenso espelho d´agua suprimindo terras agricultáveis e criando problemas sociais na região. Virou mera área de lazer e contemplação para quem pode desfrutar do imenso lago.
Hoje, Belo Monte, no Vale do Xingu, é o empreendimento hidrelétrico grandioso que está em tela, ou melhor dizendo, em questão. O professor Iglesias já não mais vive entre nós e não podemos recorrer a seus préstimos técnico-científicos para instruir a decisão conveniente. Mas haverá certamente gente à altura da competência e da integridade do professor Iglesias. Para garantir que Belo Monte, mega-projeto hidrelétrico concebido (em pesadelo) para o Vale Xinguano, em pleno coração da Amazônia, não se constitua em mais um passivo desconsertante e desarrazoado. Mais um catatau da ambição desmedida do ter e ter mais – sem fim e nem princípios... (Tenho dito).
*João Vieira é professor-fundador da Universidade Federal de Mato Grosso (aposentado), onde lecionou Sociologia e dirigiu o Museu Rondon. (Congresso em Foco)
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