Foi-se o tempo em que o negócio de eletricidade era algo exclusivo de um punhado de empresas estatais que detinham todo o poder sobre seus clientes. Lançado em 1995, o mercado livre de energia já abastece cerca de 25% do consumo de eletricidade do Brasil. São aproximadamente R$ 25 bilhões negociados por ano, que permitiram aos grandes consumidores mais flexibilidade na conta na hora de ligar suas máquinas. "Esse mercado dá ao comprador total liberdade para adquirir o que é mais adequado em termos de volume, preço, prazo de pagamento e indexação dos contratos", afirma o administrador de empresas paulista Paulo Toledo, sócio da Ecom Energia, a maior comercializadora independente do país, com um faturamento de R$ 560 milhões, em 2011.
Paulo de Toledo, CEO da Ecom Energia: "Se já negociamos energia, por que não oferecer essas oportunidades a outros investidores?"
Fundada em 2002, a Ecom compra eletricidade das geradoras e a vende para grandes consumidores. A empresa de Toledo ganha na diferença de preços e ao proporcionar liquidez aos participantes, o que facilita a existência de concorrência. Agora, Toledo quer trazer gente nova para esse negócio, transformando a compra e venda de energia em uma modalidade de investimento. "Se já negociamos energia, por que não oferecer essas oportunidades a outros investidores?", indaga. O público-alvo serão os family offices e os clientes de private bank, que buscam diversificar seus portfólios, com aplicações de R$ 3 a 5 milhões. Apesar de não ser legalmente igual a um fundo de investimentos, essa aplicação vai seguir os mesmos princípios.
Flávio Cotellessa, presidente do BBCE: "Estamos desenvolvendo novos instrumentos que atraiam o investidor financeiro".
"Vamos garantir a transparência, e estamos contratando instituições financeiras que participem como agentes fiduciários, para dar mais segurança ao investidor", afirma Toledo. Fernando Camargo, economista da LCA Consultores, avalia que o mercado de energia permite retornos elevados, mas oferece os riscos de toda aplicação que ainda está em seus primeiros estágios. "É provável que os investidores passem a ver a energia como um ativo financeiro, mas é sempre importante ter uma visão de longo prazo e ficar atento aos riscos da operação", afirma. Segundo Camargo, o mercado de energia flutua muito e a formação de preços não é precisa.
"Os preços são definidos com base em estimativas, e o investidor pode ser surpreendido com o resultado de conclusões erradas", diz. Para o economista, no entanto, o mercado oferece várias oportunidades. "Cabe às comercializadoras, que já têm experiência em ganhar dinheiro comprando e vendendo energia, a tarefa de tornar a transação o mais transparente possível", diz. Além das comercializadoras, plataformas de negociação estão transformando esse negócio ao tornar as informações mais acessíveis. Um bom exemplo é a Brix, lançada em abril de 2011 para oferecer um ambiente de negociação para essa commodity. As primeiras transações foram fechadas em julho de 2011.
Marcelo Mello, CEO da Brix: "Nosso objetivo é fazer da plataforma uma bolsa de energia".
Nesse período, a Brix negociou R$ 400 milhões em energia, ou 4,3 mil GwH, o que corresponde a 1% do consumo brasileiro. Parece pouco, mas é um número significativo para um período tão curto. O mais relevante é a mudança na estrutura do mercado. Hoje, só é possível investir nessa atividade diretamente, produzindo eletricidade, ou comprando e vendendo ações das empresas energéticas. "Nosso objetivo é fazer da Brix uma bolsa de energia", diz Marcelo Mello, CEO da empresa. O "x" ao final do nome não se trata de um acaso: um dos investidores é o empresário Eike Batista, dono do grupo EBX. Para Mello, a consolidação da Brix deve ocorrer daqui a cinco anos, no máximo.
"A consolidação do mercado deve fazer os negócios triplicarem para R$ 75 bilhões", diz Mello. Outra plataforma de negociação é o Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), controlado por diversas comercializadoras. Criado em março de 2012, o BBCE ainda transaciona poucos contratos. Seu presidente, Flávio Cotellessa, aposta que a flutuação abrupta dos preços da energia deverá favorecer sua empresa. "Os agentes de mercado precisam de uma ferramenta que os ajude a operar energia no mercado futuro com mais precisão", afirma. "Estamos desenvolvendo instrumentos que atraiam o investidor, pois quem garante a liquidez de um mercado são aqueles que apostam no negócio financeiramente." (Isté Dinheiro)
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