A volatilidade nos preços do mercado livre de energia no Brasil neste ano é a maior desde 2008, quando temores de um racionamento levaram o megawatt-hora para o patamar recorde de R$ 569. O desvio padrão do Preço de Liquidação de Diferença (PLD), usado na Câmara de Compensação de Energia Elétrica (CCEE) como uma espécie de encontro de contas entre os agentes que têm energia sobrando e aqueles que precisam completar as necessidades, quase dobrou em quatro meses, saindo de 42% em 2011 para 75% no último mês de abril.
Comercializadoras e produtoras de energia dizem que essa variação brusca de preços no mercado livre potencializou o risco assumido pelos consumidores que atuam nesse segmento de negócio. São os casos principalmente de companhias com um consumo de 0,5 MW a 3 MW médios, os chamados incentivados. Esse grupo tem exposições no curto prazo mais relevantes que os grandes consumidores, os chamados livres, com mais de 3 MW de demanda.
A Safira Energia - uma das dez maiores comercializadoras independentes do país e integrante do Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), onde se negocia uma média de 2 mil MW médios por mês - calculou que o risco assumido pelas empresas que estão descobertas aumentou em cinco vezes.
Para cada 1 MW médio de exposição em 30 de dezembro do ano passado o risco era de R$ 7,8 mil. Já no último dia 13 de abril, data do mais recente levantamento, esse valor subiu para a casa dos R$ 38,5 mil.
O risco é ainda maior para as empresas que precisam contratar energia no curto prazo, um universo não desprezível dentro do mercado livre. O chamado Ambiente de Contratação Livre, ou ACL, responde por um quarto dos 55 mil MW que o mercado de energia brasileiro movimenta. São 15 mil MW vendidos e comprados entre geradores e consumidores. Desse volume, 25% são contratos inferiores a um ano; sendo que 45,4% dessa fatia têm prazos menores que 30 dias.
"Com os preços baixos no ano passado e uma expectativa de que a tendência não mudaria, algumas empresas passaram a atuar no curto prazo com maior frequência", diz o diretor da Safira, Mikio Kawai Jr. "O momento apenas reforça a necessidade de as empresas buscarem no mercado livre estratégias e posições de longo prazo. A energia deve ser sempre vista como insumo e não como fonte de lucro para essas consumidoras".
O diretor da Enertrade, a comercializadora de energia da EDP no Brasil, João Carlos Guimarães, diz que o curto prazo deve ser usado como instrumento para cobrir pequenas diferenças. "Recomendamos sempre posições de uns três anos para evitar riscos de curto prazo".
Para o diretor de planejamento Energético da CPFL Energia, Fabio Zanfelice, a volatilidade faz parte do mercado de energia, pela própria característica do ativo - as chuvas, que alimentam a principal matriz energética do Brasil, são imprevisíveis. "O que podemos questionar são os extremos, se o preço precisaria cair tanto na baixa ou subir tanto na alta. Não temos problemas estruturais de oferta ou demanda. O sistema está robusto".
As comercializadoras da CPFL Energia, da EDP no Brasil e da AES Brasil reconhecem que a tendência de preços pressionados deve continuar predominando até pelo menos junho. E citam como motivos dessa expectativa o regime atual de chuvas, as incertezas relacionadas aos atrasos de termelétricas do grupo Bertin e a indefinição sobre as renovações de concessões de geração que vencem a partir de 2015.
O diretor de gestão de Energia e Comercialização da AES Brasil, Ricardo Cyrino, diz que a volatilidade deixa o mercado apreensivo e cauteloso, travando negócios. "Se você não sabe se o mercado vai levar o preço para R$ 180 ou R$ 250, a tendência é vermos os agentes se escondendo".
Esse ambiente indefinido já afeta também os negócios em dois balcões organizados de energia, na BBCE e na Brix.
"Se o PLD aumenta, a tendência é ocorrer dois movimentos no mercado", diz Cyrino. "Temos o encolhimento da oferta e o aumento do preço da contratação".
Na Brix, lançada em julho do ano passado, o volume médio negociado mensalmente caiu do pico atingido em fevereiro, de 1.316 MW, para o patamar de 600 MW médios em abril. (Valor Econômico)