terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Analistas veem risco iminente de novos apagões

O apagão que atingiu dez Estados e o Distrito Federal na tarde desta segunda-feira (19) deve se repetir nas próximas semanas, dizem especialistas. O aumento do consumo de energia devido ao forte calor deve continuar sobrecarregando o sistema, avalia Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc, maior comercializadora independente de energia.

"O nível dos reservatórios está crítico e situações parecidas com essa podem ocorrer nas próximas semanas", diz.

Para o presidente da consultoria Thymus Energia, João Carlos de Oliveira Mello, novos apagões devem acontecer caso não haja uma recuperação do nível dos reservatórios até abril, quando a decisão sobre um eventual racionamento terá de ser tomada.

"A oferta [de energia] está limitada devido ao baixo nível dos reservatórios. Quando isso ocorre, as máquinas perdem potência e não conseguem gerar energia na velocidade necessária para atender a demanda. Não há alternativa, tem que cortar para proteger o sistema", afirma Mello.

O aumento da demanda sem o aumento correspondente de oferta leva a uma queda da frequência da rede elétrica e, para se proteger, o sistema se desliga automaticamente.

Foi o que aconteceu nesta segunda, quando o alto consumo de energia no pico do calor, por volta de 15h, levou ao desligamento de usinas geradoras. Para prevenir um apagão de maior proporção, o ONS solicitou às distribuidoras de energia que cortassem o fornecimento de 5% da carga do sistema.

O nível de armazenamento de água do sistema hidrelétrico no Sudeste está em 18,3%. Para evitar o risco de racionamento, esse nível precisaria chegar a 33% até abril.

"O risco de apagão, ou seja, a chance de não atingir o volume de água necessário, é de 40%", aponta Mello. "A situação está muito ruim. Está muito calor, a classe média se expandiu e comprou ar-condicionado. Essa mobilidade social também contribui para o problema."

Para Marcelo Parodi, sócio da comercializadora de energia Compass, a situação está no limite. "Parece que a ficha ainda não caiu para a sociedade", diz.

"Na medida em que o nível dos reservatórios cai, a capacidade do sistema de ofertar fica ainda mais limitada, aumentando riscos de apagão."

RACIONAMENTO - Para Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobras, é urgente a realização de campanhas de redução do consumo. "Deveria ter sido feito há um ano, mas não foi feito por razões políticas. É melhor racionar o uso do que enfrentar cortes maiores no futuro." Outra alternativa, diz o presidente da Thymus, seria determinar que as indústrias transfiram o consumo para horários de menor demanda (à noite, por exemplo). "Mas os sindicatos não iriam gostar." (Folha de S.Paulo)
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