Embora não esperem mudanças profundas no próximo governo, agentes do setor elétrico apostam pelo menos na rediscussão de alguns aspectos do modelo atual, qualquer que seja o vencedor da disputa pela Presidência da República. A retomada do diálogo com todos os segmentos do mercado é uma preocupação comum a dirigentes ouvidos pela Agência CanalEnergia, alguns dos quais revelaram surpresa com o desempenho no primeiro turno do candidato do PSDB, Aécio Neves. Ele foi confirmado como o adversário da presidenta Dilma Rousseff no segundo turno da eleição.
O presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia, Mário Menel, acredita que se houver alguma mudança de regras, ela ocorrerá na hipótese de vitória do tucano, já que a tendência de Dilma é dar continuidade à política atual. Ele conta que uma proposta da Abiape foi feita aos três candidatos melhor colocados nas pesquisas, antes mesmo do acidente de avião que matou o candidato do PSB, Eduardo Campos, substituído pela vice, Marina Silva. Todos, na ocasião, prometeram respeitar os contratos.
“Nossa proposta, inclusive para o governo Dilma, é revisitar o novo modelo. Ele tem dez anos e carece de modificações e aprimoramentos”, afirma Menel. O executivo defende a rediscussão da construção de usinas sem reservatórios; o aprofundamento da análise dos impactos regulatórios das políticas do setor; e mudanças nas regras dos leilões, embora reconheça que algumas alterações necessárias já estão sendo feitas, como a definição de preço diferenciado por fonte, como no caso da energia solar no próximo leilão de reserva. Quanto a alterações na metodologia do Preço de Liquidação das Diferenças, reconhece que não há consenso, porque tem segmentos que ganham e outros não.
Para o presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica, Luiz Fernando Vianna, o resultado das urnas mostra que o segundo turno das eleições presidenciais será disputado. “O importante é que quem venha a vencer realize uma aproximação com o setor elétrico já no primeiro semestre de 2015 para uma grande conversa sobre os problemas que o setor vem tendo em várias áreas”, recomenda Vianna.
O executivo da Apine diz que o setor precisa superar as dificuldades vividas atualmente e que é preciso atenção do presidente eleito logo no início do mandato para os segmentos de geração, distribuição, transmissão e comercialização de energia.
A avaliação do presidente executivo da Associação Brasileira das Companhias de Energia Elétrica, Alexei Vivan, é de que qualquer um que saia vencedor no segundo turno das eleições presidenciais não levará a uma mudança profunda no setor. Até porque, disse ele, todos os problemas estão bem discutidos, com destaque para a necessidade de previsibilidade de regras e estabilidade para atração de investimentos. “Acabamos vendo declarações de ambos os candidatos no sentido de criar ambiente propício a investimentos e com preços que reflitam adequadamente o risco do negócio. Houve erros no passado e foram reconhecidos, tudo isso será levado em consideração”, disse o executivo da ABCE.
Vivan lembra que o atual governo está em busca de maior diversificação de fontes, e cita o exemplo do Leilão de Energia de Reserva, que incluiu a fonte solar a um preço positivo para a entrada da fonte na matriz elétrica nacional. O problema maior foi mesmo a medida provisória 579, que prejudicou o setor regulado e o mercado livre. Contudo, afirma que ao passar as eleições, no caso do ACR, a tendência é de que tanto o programa do candidato Aécio Neves quanto da presidente Dilma Rousseff devem olhar para a competitividade da indústria nacional.
“Passado o período eleitoral, eles voltarão suas atenções para a competitividade da indústria. Ainda que PSDB seja um partido mais voltado para economia de mercado, mais liberal, acho que mesmo o PT e a Dilma têm a preocupação em manter o mercado livre vivo, pois este sofreu bastante. Acredito que a decisão possa vir depois das eleições”, aponta.
O presidente da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, Charles Lenzi, afirma que as expectativas do setor independem de que será o vencedor do pleito. “Nós temos um número grande de desafios a serem endereçados no setor elétrico e nossa expectativa e de que, independentemente de quem venha a assumir em janeiro, eles sejam enfrentados”, observa.
Defensor da reavaliação do modelo do setor, Lenzi considera necessário que as regras sejam discutidas e aperfeiçoadas com os agentes. Ele fala da esperança dos investidores em pequenas centrais hidrelétricas de que novas oportunidades de participação nos leilões regulados surjam em 2015, com uma solução para a questão do preço- teto da fonte. Mas também menciona a reavaliação do risco das empresas com a geração abaixo da garantia física das usinas e a estabilidade regulatória para que se possa garantir volume maior de investimentos. (Agência Canal Energia)
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