sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Competitividade move investimento da grande empresa

Executivos das cinco empresas que mais aplicaram em P&D em 2013, de acordo com ranking da consultoria Booz & Company, são unânimes sobre o caráter essencial dos investimentos em inovação num cenário cada vez mais competitivo e globalizado e ressaltam que esse é um dos melhores caminhos para se diferenciar da concorrência.

“Ocupamos atualmente a posição de maior fornecedora mundial de aços especiais para indústria automotiva, além de atender segmentos como de petróleo e gás, energia eólica, máquinas e equipamentos agrícola?^ mineração, setores com demandas cada vez mais complexas. Nesse contexto, a implantação de um processo estruturado de P&D traz importantes vantagens competitivas”, explica Francisco Deppermann Fortes, vice-presidente executivo de pessoas, inovação e gestão da Gerdau.

O foco hoje está na inovação de processos de produção do aço. Um exemplo do impacto dessas novidades nos negócios da empresa está nos dados relativos a 2013. No ano passado, cerca de 10% do volume de entregas de aços especiais da Gerdau no mundo corresponderam a produtos criados nos últimos três anos pelos seus centros globais de P&D, localizados na Espanha, Brasil e EUA. Os centros globais, em diferentes locais, permitem o atendimento a clientes locais, assim como a oferta de soluções inovadoras para clientes com atuação global. “Uma vantagem em relação a concorrentes que não dispõem da mesma diversidade geográfica”, argumenta.

Os centros de P&D cumprem um importante papel na antecipação de necessidades do mercado, propondo soluções aos clientes de forma proativa. “No passado, a indústria do aço costumava encarar P&D como um custo que poderia ser reduzido ou eliminado. No entanto, com o aumento da concorrência global, a indústria precisa se reinventar em ciclos cada vez mais curtos, o que torna processos estruturados de P&D essenciais para a sustentabilidade do negócio em longo prazo”, avalia Fortes.

A Vale é outra companhia que atesta a importância dos centros de pesquisa. Com investimento em P&D orçado em US$ 903 milhões para 2Ò14 (cerca de 0,5% do faturamento), a empresa criou, em 2009, o Instituto Tecnológico Vale (ITV), cujo objetivo principal é buscar soluções inovadoras. O ITV funciona sobre três eixos. O principal deles, o da pesquisa, visa promover, difundir e realizar pesquisas relacionadas à mineração e desenvolvimento sustentável. Há o eixo do ensino, para qualificar pesquisadores, e o do empreendedorismo.

“Queremos trazer para a indústria pessoas que não estão nela, uma vez que há, ainda, no Brasil uma relativa separação entre academia e indústria”, explica Luiz Mello, diretor de inovação da empresa. Segundo ele, as empresas tendem a priorizar o D, de desenvolvimento, e não o P, de pesquisa, em função do imediatismo. “Pesquisa faz parte do novo e pressupõe tempo, erros e acertos até chegar ao resultado final”, diz.

No caso da Totvs, que investiu R$ 213, 6 milhões em 2013, as inversões em P&D estão diretamente ligadas à sua existência e sobrevivência. “Na área de softwares para sistemas de gestão, a inovação é imperativa para atrair e reter clientes”, diz Gilsinei Hansen, vice-presidente de segmentos e sistemas.

Além de investir no aprimoramento dos colaboradores, sua estratégia inclui três conceitos—tecnologia fluida, essencialidade e um Enterprise Research Plan (ERP) ágil — que devem nortear todo o trabalho desenvolvido nos seus nove centros de pesquisa no Brasil e no laboratório que mantém na Califórnia, no Vale do Silício. Este último faz parte da decisão da empresa de estar mais perto da tecnologia de ponta, conectada com as tendências globais. O objetivo principal é o desenvolvimento de tecnologias que tragam benefícios reais no curto-prazo.

Na Petrobras, a estratégia da empresa para crescer em P&D e inovação se dá por meio de redes temáticas. Atualmente, há 49 delas dedicadas a temas tecnológicos de interesse estratégico de todas as áreas de atuação da companhia. “Esse modelo fomentou o aumento das parcerias entre a Petrobras e o meio acadêmico brasileiro na pesquisa de temas estratégicos, na área de petróleo e gás. Hoje, contamos com a colaboração de 122 universidades e institutos de pesquisa brasileiros”, informa André Cordeiro, gerente executivo do Centro de Pesquisas (Cenpes).

A empresa vê a inovação como fundamental no seu processo de desenvolvimento. “Foi graças a ela que a produção de petróleo e gás do pré-sal tornou-se uma realidade”, relembra Cordeiro. A aplicação prática do conhecimento adquirido a partir dos projetos de P&D garantiu melhoria nos processos de produção, seja por meio do desenvolvimento de sistemas que permitem explorar novas fronteiras, seja pelo aprimoramento de técnicas existentes com vistas à redução de custos.

Em 2013, a Petrobras aplicou US$ 1,132 bilhão em pesquisa, desenvolvimento e inovação, ou seja, 0,8% da receita líquida. No triênio 2011/2013, a média dos investimentos aplicados no setor foi de US$ 1,24 bilhão, contra US$ 160 milhões* no triênio 2001/2003. Esse incremento representa uma alta de 700% na média investida. “O volume de recursos aplicados em pesquisa, em 2013, é um dos maiores do mundo entre as empresas de energia, segundo a Energy Evaluate 2014″, destaca. (Valor Econômico)
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