sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Apagão e alta da conta de luz opõem PT e PSDB

Enquanto representantes do governo se negam a admitir que exista uma crise no setor elétrico - apesar do rombo bilionário das empresas do segmento -, especialistas ligados ao PSDB sugerem soluções como a realização de uma auditoria no setor, a volta da geração a carvão e, ao mesmo tempo, minimizam os impactos do racionamento de 2001. Esses foram os principais pontos apresentados no programa GloboNews Miriam Leitão, da colunista do GLOBO, que, em sua segunda edição, debate a economia com representantes das candidaturas de Dilma Rousseff e Aécio Neves.

O debate entre Adriano Pires, diretor e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), representando o PSDB, e Maurício Tolmasquim, ex-secretário executivo do Ministério de Minas e Energia e atual presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), como representante do PT, foi centrado nas críticas dos dois governos, com temas que vão do racionamento de energia no governo de Fernando Henrique Cardoso ao aumento da conta de luz como resultado da crise no setor.

Para Adriano Pires, são necessárias quatro linhas de atuação: resgatar o planejamento transparente para o setor, melhorar a gestão, aprimorar a regulação e construir uma matriz energética sustentável.

- Vamos deixar de utilizar a Petrobras para fazer política econômica, deixar de administrar o preço da gasolina e do diesel. Vamos tirar o etanol desta crise sem fim, trazendo de volta a Cide (tributo que incidia sobre a gasolina e que tornava o preço do álcool mais competitivo). Vamos descentralizar o sistema energético. Cada região tem sua particularidade, e vamos fazer leilões por fontes: eólica no Nordeste, biomassa no Sudeste e Centro-Oeste, leilões (de energia) de carvão no Sul. Vamos trazer energia solar e ter metas de crescimento para a energia solar e eólica - disse ele, defendendo o uso em empresas de aparelhos de ar-condicionado a gás, mais eficientes.

Indagado após o fim do debate sobre a defesa da retomada da energia a carvão, considerada uma das mais poluentes, Pires disse que isso não representa retrocesso ambiental:

- O Brasil não pode abrir mão das riquezas que tem. O país se diferencia de outros Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) pela diversidade energética que a gente tem. O Brasil não está em situação de abrir mão de nenhuma fonte de energia. Por que não pode usar um pouco o carvão? Hoje há tecnologia para mitigar (os impactos ambientais), é uma solução regional, não é uma solução nacional.

Já Tolmasquim defendeu, no programa da GloboNews, que se intensifiquem os esforços para a exploração do pré-sal. Além disso, citou como metas a diversificação da matriz com um aumento da participação de fontes renováveis (eólica, solar e biomassa) e a continuidade da garantia de segurança do abastecimento de energia elétrica:

- Ao contrário do governo tucano, que teve de cortar 20% do consumo de energia no país, nós vamos, no governo Dilma, manter essa segurança no abastecimento que está proporcionando que, mesmo num ano extremamente seco como o que estamos vivendo, o consumidor brasileiro não tenha tido nenhum problema de energia elétrica - disse.

O presidente da EPE negou a existência de problemas no setor ao ser questionado por Miriam Leitão sobre a crise atual. Diante de um cenário de escassez de chuvas, as distribuidoras tiveram que comprar energia mais cara no mercado livre para honrar contratos e garantir o fornecimento. Para cobrir o rombo com estas despesas não programadas, contraíram empréstimos que somam R$ 17,7 bilhões. Com isso, a expectativa para o próximo ano é de fortes aumentos na conta de luz, que poderiam ultrapassar os 20%.

- Não existe crise, não está faltando um megawatt-hora no sistema. Temos um ciclo hidrológico ruim, o pior dos últimos 81 anos, e para poder não ter racionamento se usou as termelétricas, que são pagas para isso. É claro que há um custo de operação destas termelétricas, ele tem de ser pago e será pago pelo consumidor, mas não dá para comparar com o que ocorreu no passado - disse Tolmasquim.

A partir daí, o debate sobre o apagão de 2001 dominou o programa. Indagado sobre o apagão de 2001 e sobre como um governo tucano evitaria a repetição do problema, Pires disse que o racionamento foi transparente.

- Estamos vivendo agora a maior crise que o setor elétrico já teve e quem está dizendo isso não sou eu, mas os agentes do mercado. Uma crise que não é só explicada pela falta de chuva, mas tem outras explicações muito mais profundas: o governo resolveu baixar os preços de energia na marra quando os custos estavam crescendo. O governo não implantou as bandeiras tarifárias (que permitem que as diferenças nos custos da energia sejam compensados no mês seguinte) no começo de 2014. O governo não fez uma campanha de redução do consumo de energia elétrica - disse ele, que citou estimativas de até R$ 100 bilhões para o custo da crise do setor em três anos, um montante muito superior aos R$ 21 bilhões (a preços de hoje) de perdas causadas pelo racionamento de 2001.

- Praticamente não foi construída nenhuma hidrelétrica no governo de Fernando Henrique Cardoso - retrucou Tolmasquim, lembrando que, segundo cálculos, o apagão reduziu a capacidade de crescimento do país.

Para Pires, o país só não enfrenta racionamento hoje porque a economia não cresce:

- Ano que vem teremos mais aumento de tarifa. Não adianta ficar falando do passado, já aconteceu, foi bem administrado (o apagão), a gente tinha o comitê gestor da crise, e a gente vai voltar com esse comitê gestor da crise para tentar corrigir as barbeiragens que eles (do PT) fizeram, a gente vai fazer uma auditoria do setor elétrico. O risco do verão será enorme, vamos viver um verão de muitos apagões e "apaguinhos".

Na primeira edição do programa, na semana passada, Miriam Leitão realizou um debate entre Guido Mantega e Arminio Fraga, atual e futuro ministro da economia em uma eventual vitória tucana. (O Globo)
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