segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Sem alterar regras, crise de hidrelétricas deve se agravar

As hidrelétricas de Jirau e Belo Monte podem amargar a crise enfrentada pela usina de Santo Antônio se o governo não alterar as regras de funcionamento de turbinas. Pelas normas vigentes, há uma meta de disponibilidade que as máquinas devem cumprir. Trata-se do tempo, em um mês, em que elas devem ficar prontas para serem usadas, dependendo apenas de um comando do Operador Nacional do Sistema Elétrico.


A meta existe para fixar um padrão de funcionamento, com margem pequena para falhas eventuais ou reparos.

No caso de Jirau e Santo Antônio, que estão sendo construídas no Rio Madeira (RO), a disponibilidade das turbinas deve ser de 99,5%.

O problema, segundo as empresas, é que usinas como Jirau, Santo Antônio e Belo Monte --que não possuem grandes reservatórios e usam as quedas naturais dos rios para gerar energia-- só conseguirão atingir essas taxas quando todas as suas turbinas estiverem operando.

Na montagem das usinas, as turbinas são instaladas uma a uma e começam a operar a cada dois ou três meses. O governo, porém, cobra a meta a partir do funcionamento da primeira turbina, anos antes do fim do projeto.

Em Belo Monte, que está sendo construída no rio Xingu, as máquinas terão de ficar 100% disponíveis na casa de força principal e 94,46% na de menor potência, diz a Norte Energia, responsável pela usina. A empresa diz que cumprirá a meta, mas que "se adequará às regras de mercado" em casos de atrasos ou paradas não planejadas.

A punição às usinas que não cumprem as metas é aplicada sobre o tempo em que as turbinas ficarem indisponíveis, e o valor segue o preço da energia no mercado.

Por causa do uso maciço de usinas térmicas neste ano, esse preço paira próximo ao teto (R$ 823 o MWh), o que torna a conta bilionária --a empresa responsável pela usina de Santo Antônio, por exemplo, diz que vai perder cerca de R$ 2,3 bilhões.

"Ainda não estamos enfrentando problema, mas vai ocorrer conosco", disse Victor Paranhos, presidente da empresa Energia Sustentável do Brasil, responsável por Jirau. "Na fase de motorização [instalação das turbinas], é impossível cumprir a meta."

A empresa aguarda a análise do caso de Santo Antônio pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) para decidir o que fazer.

Os administradores de Jirau dizem que o problema ainda é pequeno, pois há apenas 13 turbinas funcionando comercialmente, de 50. A usina atinge quase toda a meta.

Santo Antônio tem 32, de 50, com 91% de disponibilidade. "Atingir essa meta é ficção", disse o presidente da Santo Antônio Energia, Eduardo de Melo Pinto.

"Os gastos que temos vêm tornando o projeto desinteressante para o acionista, que já está no limite da exaustão."

Em Belo Monte, onde as turbinas ainda estão sendo instaladas, as regras já poderão ter sido alteradas quando a operação começar. Se isso não ocorrer, especialistas preveem os mesmos problemas de Santo Antônio e Jirau.

Procurada, a Empresa de Pesquisa Energética informou que esse tema é de responsabilidade da Aneel. A agência não respondeu o pedido da reportagem. (Folha de SP - 28/09)