quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Dois anos após MP, nova crise ameaça retomada das elétricas

As empresas do setor elétrico recuperaram, em 2014, parte do valor de mercado perdido após a medida provisória 579, editada há exatos dois anos com o objetivo de reduzir as tarifas. Mas uma nova crise financeira no setor, estimulada pela seca, deve interromper a retomada.

Em 2014, as elétricas ganharam R$ 10,7 bilhões em valor de mercado, reduzindo de R$ 40 bilhões para R$ 29,3 bilhões as perdas dessas empresas em Bolsa desde 11 de setembro de 2012, segundo dados da Economatica.

Dois fatores explicam a valorização das ações. Um deles é a especulação sobre o resultado da eleição presidencial. Para o mercado, uma vitória da oposição favoreceria o setor, castigado nos últimos dois anos pelo aumento da ingerência política.

A outra explicação advém dos bons resultados no primeiro semestre das geradoras, líderes em ganho de valor de mercado. Juntas, Cemig, Cesp, Copel e Eletrobras --esta última mais afetada pelo fator eleitoral-- recuperaram R$ 9,5 bilhões em Bolsa até esta quarta-feira (10).

Segundo Alexandre Furtado, analista do setor da Lopes Filho Associados, as geradoras venderam a maior parte de sua energia nos primeiros meses do ano, para aproveitar os altos preços no mercado à vista.

A expectativa era que as cotações cedessem com a proximidade do período úmido.

A estratégia alavancou os resultados, principalmente do primeiro trimestre, e contribuiu para a alta das ações.

O problema é que a estiagem se estende por um período maior do que o esperado. Se por um lado a falta de chuvas mantém o preço da energia elevado, por outro ela reduz o nível dos reservatórios, restringindo o volume de energia que pode ser vendido pelas geradoras.

Para economizar água dos reservatórios, em períodos de seca prolongada o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) prioriza o despacho das termelétricas, em detrimento das hidrelétricas.

Com isso, as empresas não conseguem gerar todo o volume de energia que havia sido vendido, sendo obrigadas a comprar energia no mercado à vista, a preços altos, para cumprir os seus contratos.

Só no terceiro trimestre, essa conta extra das geradoras deve chegar a R$ 9,65 bilhões, segundo a Comerc. O impacto disso nas finanças das empresas deve ficar evidente nos próximos balanços. Em 2014, estima-se que esse rombo possa somar R$ 20 bilhões.

"Mais do que o impacto sobre os resultados, as ações sofrerão com a expectativa de como serão os próximos períodos e com o horizonte de resolução para esses problemas", diz Bruno Piagentini, analista da Coinvalores.

Ao contrário das distribuidoras, que podem repassar para as tarifas o aumento no custo com a compra da energia e já foram socorridas pelo governo, as geradoras não têm um mecanismo de compensação para esses gastos.

Elas pedem uma solução ao governo, mas o tema é controverso. Para alguns, o risco hidrológico faz parte do negócio das geradoras, com o qual elas têm de conviver.