segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Fatura do atraso

O desânimo é geral no setor elétrico. Não bastasse a disparada dos custos da energia que destruiu o caixa de geradoras e distribuidoras, os analistas asseguram que falta planejamento para os investimentos em recursos hídricos visando ao uso múltiplo da água. As novas hidrelétricas não têm reservatórios grandes e estão com as obras atrasadas. As termelétricas de reserva estão acionadas a todo vapor desde outubro de 2012.

Além disso, a imposição de preços baixos nos leilões passados deixou as distribuidoras descontratadas. Ou seja, as empresas foram obrigadas a comprar energia no mercado de curto prazo, pagando até R$ 822,83 o megawatt/hora — um recorde. Tiveram que pedir socorro ao governo, que apelou para empréstimos a um pool de bancos, o primeiro, de R$ 11,2 bilhões, o segundo, de R$ 6,6 bilhões. O risco dessas operações é tão alto, que as instituições privadas ficaram com um pé atrás e a maior parte dos desembolsos recaiu sobre a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Preocupado com o reflexo dos sucessivos erros nas urnas em outubro próximo, o governo empurra com barriga o que pode. O pagamento do financiamento de R$ 17,8 bilhões será diluído na fatura do consumidor: 2,6% no ano que vem, 5,6% em 2016 e 1,4% em 2017. Essa, no entanto, é a parte visível da fatura preparada para as famílias e as empresas. Anualmente, as empresas têm direito a reajustar a conta de luz. E o farão sem dó, sobretudo devido à caríssima energia comprada das térmicas.

O problema é agravado porque, além de o país sofrer com a expansão inadequada do setor de energia e carecer do interesse de investidores privados para ampliar a geração, a capacidade de oferta do parque atual é superestimada pelo governo. O consultor da PSR Mario Veiga alerta que os cálculos realizados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) não são precisos. Muitas usinas antigas já perderam a eficiência energética, e vários reservatórios sofrem de assoreamento, perdendo potencial de armazenamento.

Para o presidente da Corumbá Concessões, Marconi Araújo, o setor enfrenta problemas porque empreendimentos que deveriam estar prontos sofrem com atrasos. "São 23 usinas atrasadas. O planejamento hídrico é como o elétrico. Se chove menos, é preciso economizar. Se os investimentos não atendem a demanda, deveria haver racionalização", completa. (Correio Braziliense - 10/08)
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