quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Queda de raio volta a ser cogitada como causa de apagão

RIO - Empresas envolvidas no apagão de terça-feira, que deixou 6 milhões de pessoas sem luz no País, trabalham com a hipótese de que o incidente foi provocado por descargas atmosféricas (raios). Mas dados divulgados ontem pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revelam que o blecaute ocorreu poucos minutos depois de um pico no consumo de energia, reforçando os temores sobre as reais condições do sistema.

O governo tenta desvincular o apagão de qualquer aumento no consumo de energia motivado pelo forte calor. Ontem, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, voltou a negar que os dois temas estejam relacionados. "Isso não tem nenhuma relação com a questão do consumo. A quantidade de energia transportada não estava acima do que o sistema suporta", disse ele.

Tolmasquim afirmou ser comum nessa época do ano o Norte exportar energia para o Nordeste e o Sudeste, para aproveitar o elevado nível do reservatório da hidrelétrica de Tucuruí. "O Norte tem de mandar energia para o restante do País, porque, se isso não for feito, a chance de Tucuruí verter água no fim do período úmido cresce", disse. No momento da falha no sistema de transmissão, o Norte enviava 4,8 mil megawatts (MW) ao resto do País, abaixo do limite da interligação, de 5,1 mil MW.

Hoje, às 14h, haverá reunião, no Rio, entre a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Ministério de Minas e Energia, o ONS e as empresas (geradoras, transmissoras e distribuidoras) afetadas pelo apagão. O encontro deve sinalizar a possível causa do problema. Se a tese sobre os raios se confirmar, será mais um apagão provocado por condições climáticas adversas, apesar de a presidente Dilma já ter dito que essa não é uma hipótese que deve ser levada em conta (ler ao lado).

Os raios já foram usados para justificar a falha em um sistema de transmissão de Furnas que derrubou a hidrelétrica Itaipu e deixou consumidores de 18 Estados sem energia no fim de 2009. Na terça-feira, o diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, descartou várias hipóteses, como a falta de investimento, de manutenção, o calor e a sobrecarga, mas não desconsiderou a teoria dos raios.

Tolmasquim lembrou que o setor de transmissão não carece de investimentos, e que o governo federal pretende licitar 13 mil quilômetros de novas linhas em 2014, muitas delas para reforçar o intercâmbio de energia entre as regiões Norte e Sudeste. "Com o crescimento do mercado, já estamos olhando para um horizonte de dois ou três anos à frente."

Norte. A amplitude do apagão foi maior do que o informado originalmente pelo ONS. Além dos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, consumidores do Acre, Rondônia e Tocantins, no Norte, ficaram sem energia. Com isso, 13 Estados e o Distrito Federal sofreram blecaute.

O ONS informou que a região Nordeste havia enfrentado apagão de menor porte horas antes, na madrugada. O desligamento de quatro transformadores em subestação da Chesf em Sergipe deixou a capital Aracaju e cidades do interior sem luz por 30 minutos. (O Estado de S.Paulo)
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