Os projetos para a construção de novas usinas nucleares no Brasil estão em compasso de espera. Atualmente, o país conta com duas centrais em operação — Angra 1 e 2 — e uma terceira ainda em obras: após múltiplos adiamentos, a usina de Angra 3 deverá finalmente ficar pronta em maio de 2018. Depois dela, porém, tudo dependerá de uma decisão estratégica do governo.
Publicado em 2007 pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal vinculada ao Ministério das Minas e Energia, o Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030) previa a instalação de pelo menos mais 4 mil megawatts (MW) de potência geradora nuclear no país, podendo chegar a mais 8 mil MW, para abastecer o Sudeste e o Nordeste, o que exigiria a implantação de novas usinas nas duas regiões. Diante disso, a Eletronuclear, braço da Eletrobrás responsável pela construção e operação das centrais nucleares brasileiras, fez um levantamento de 40 áreas onde elas poderiam ser instaladas e de possíveis tecnologias que poderiam ser usadas.
O planejamento, porém, foi concluído antes da crise financeira global de 2008, trazendo uma perspectiva de forte crescimento econômico e, consequentemente, da demanda por energia. Assim, a EPE dedica-se a estudos de um novo PNE, com horizonte em 2050, previsto para ser publicado no ano que vem. É ele que deve indicar qual será a contribuição futura da energia nuclear para a matriz brasileira e servirá de base para a Eletronuclear prosseguir com as avaliações.
Para Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, a energia nuclear pode ter um papel na base da matriz energética brasileira, mas o país deve também levar em conta alternativas para complementar a geração hídrica. Isso porque boa parte da expansão da oferta de energia no Brasil virá de hidrelétricas a fio d´água, isto é, sem reservatórios, que dependem da vazão dos rios para produzir eletricidade. Isso faz com que estas usinas tenham geração variável e de maior risco, como no caso de falta de chuvas, o que cria a necessidade de alguma complementação.
— Mas não vejo como prioritária uma maior expansão da geração nuclear após o término de Angra 3 — diz. — O Brasil é um país com muitas alternativas, e acho que seria melhor adiar a decisão sobre novas usinas nucleares. Temos, por exemplo, a energia eólica, que pode crescer exponencialmente, e a do bagaço de cana, que tem sido desperdiçada. Não risco a energia nuclear do mapa, mas ela deve ser colocada num quadro maior que leve em conta custos e benefícios num debate com a participação da sociedade. (O Globo)
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